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Projeto Sala Verde

por tassia publicado 22/11/2018 14h48, última modificação 22/11/2018 14h48

Sala Verde nas Ondas do Rio Iguaçu: a natureza política da Educação Ambiental

O projeto Sala Verde nas Ondas do Rio Iguaçu, localizado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos (UTFPR-DV), pretende formar cidadãos atuantes na região por meio de diferentes projetos e programas propostos na Universidade e na comunidade de forma interdisciplinar, promovendo a formação de educadores ambientais que atuem em espaços formais, não formais e informais para além dos muros da Universidade.

Dentre as diversas propostas da Sala Verde, que é uma chancela do Ministério do Meio Ambiente concedida à Instituição, destacam-se as ações de formação inicial e continuada dos alunos e professores dos diversos cursos do Câmpus, o que possibilita um caminhar em direção à interdisciplinaridade nas diversas pesquisas e projetos extensionistas. Cabe aqui mencionar que no ano de 2018 a equipe da Sala Verde conquistou o Selo SESI – ODS.

Além das ações direcionadas para a formação de educadores ambientais, a Sala Verde realiza diversas pesquisas de cunho investigativo e de extensão que são oferecidas como oficinas/palestras em diferentes Instituições, dentre elas estão:

a) Ambientalização Curricular e análises acerca da dimensão política da Educação Ambiental;

b) análise do discurso de resistência presente nos bordados de Arpilleras de mulheres atingidas por barragens;

c) processos de Educomunicação relacionados aos valores éticos/estéticos da Educação Ambiental;

d) projetos de extensão relacionados ao manejo de resíduos;

e) desenvolvimento de processos educativos com professores e alunos da Educação Básica por meio da utilização de mandala sensorial e casas de sombra contendo espécies de plantas nativas, hortaliças, condimentares, medicinais e plantas alimentícias não convencionais (PANC);

f) projeto de pesquisa referente à natureza política da Educação Ambiental e Injustiças Socioambientais.

 

a) Ambientalização Curricular

O trabalho voltado à Ambientalização Curricular vem ganhando espaço no Câmpus Dois Vizinhos, procurando atender ao tripé universitário: o ensino, a pesquisa e a extensão. O objetivo central é que as ações nesses três eixos propiciem a realização de um trabalho interdisciplinar entre as disciplinas e também entre os cursos “que contemple a dimensão socioambiental e todas as questões que se relacionam com a sustentabilidade, com o intuito de uma formação permanente do indivíduo” (ORSI, 2014, p. 03).

Nesse sentido, faz-se necessário que a Educação Ambiental seja incorporada como uma ação da universidade que ultrapasse o limite de um determinado curso ou de uma determinada disciplina. É preciso investimento na estrutura física e na formação do educador ambiental. Ela precisa ser um projeto da universidade e não de apenas de alguns cursos.

Por intermédio da Sala Verde são realizadas diversas ações de pesquisa e extensão que ultrapassam os limites do curso de Ciências Biológicas. No que se refere ao ensino, há uma estrita ligação da disciplina de Educação Ambiental do Curso de Ciências Biológicas com as atividades de pesquisa e extensão, pois os alunos que frequentam a supracitada disciplina desenvolvem ações com os integrantes da Sala Verde.

Diante do exposto, constata-se algumas ações no sentido da interdisciplinaridade da consolidação do tripé universitário, mais precisamente no Curso de Ciências Biológicas.

 

b) Os discursos de mulheres atingidas por barragem bordados em Arpilleras

A produção de Arpilleras é uma técnica muito utilizada para os processos de resistência. Bacic (2012, p. 7) menciona que tal técnica foi utilizada, "como forma de registrar a vida cotidiana das comunidades e de afirmar sua identidade, as oficinas de Arpilleras não somente representaram a expressão dessa realidade como também se transformaram em fonte de sobrevivência em tempos adversos. Muitas Arpilleras fazem referência aos valores consolidados da comunidade e aos problemas políticos e sociais que esta enfrenta. Tornaram-se uma forma de comunicar ao mundo exterior, no país e fora dele, o que estava acontecendo, e ao mesmo tempo, uma forma de atividade cooperativa e fonte de renda. Graças às Arpilleras, muitas mulheres chilenas puderam denunciar e enfrentar a ditadura desde fins de 1973. As Arpilleras mostravam o que realmente estava acontecendo nas suas vidas, constituindo expressões da tenacidade e da força com que elas levavam adiante a luta pela verdade e pela justiça. Além disso, cada uma destas obras pôde quebrar o código de silêncio imposto pela situação então vivida no país. Hoje, são testemunho vivo e presente, e uma contribuição à memória histórica do Chile".

As questões que nos são plausíveis e necessárias a serem colocadas nesse projeto podem ser assim formuladas: existem nas Arpilleras construídas o avivar de memórias que se referem aos diversos impactos ocasionados no/ao ambiente pela construção de barragens? Nelas estão expressas lutas de uma época de resistência? Quais aspectos transpostos por esses bordados apontam indicadores de uma dimensão política da Educação Ambiental?

 

c) Educomunicação - debates ambientais coletivos em tempos de retrocesso

Vivemos na sociedade da comunicação. Modernizamos os meios de comunicação de tal forma que eles se tornaram o centro do nosso dinamismo social. Com as inúmeras ferramentas de comunicação eliminamos os limites entre o distante e o próximo. Emitimos mensagens como nunca, trocamos informações de forma rápida e cotidianamente. A evolução na comunicação exige adaptações e novos desenvolvimentos, especialmente da Educação e a Educomunicação pode ser uma oportunidade para esse desenvolvimento, conforme nos fala Paulo Freire: “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Assim, nesse processo educativo construímos diversas matérias audiovisuais para divulgação na comunidade acadêmica e local, propiciando diálogos em busca de um caminhar coletivo.

 

d) Processos educativos relacionados à Reutilização de Resíduos

Os processos educativos relacionados à Reutilização de Resíduos abrangem por completo o tripé da sustentabilidade. No tocante à questão ambiental, aborda-se o reaproveitamento, e, portanto, trabalha-se a destinação nobre dos resíduos sólidos, que são caracterizados como um dos maiores problemas ambientais da nossa era. Em relação aos quesitos social e econômico, a gestão de resíduos tem o apelo relacionado à geração de renda, que, invariavelmente, promove o fomento à melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. Nesse sentido, abordar o reuso de resíduos, como na construção de jardins verticais usando garrafas pet e pellets (Figura 5), que seriam, quando na melhor hipótese, destinado à um aterro sanitário, é sinônimo de transpor conhecimento que possibilita a melhoria da qualidade ambiental, fomenta a geração de renda e de incremento social dos envolvidos.

 

e) Processos educativos relacionados com Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)

As Plantas Alimentícias Não Convencionais conhecidas pela sigla PANC, são espécies de plantas que possuem uma ou mais categorias de uso alimentício, ou seja, que poderiam ser consumidas na alimentação humana, mas geralmente não são. Essas espécies de plantas comestíveis podem ser exóticas, nativas, silvestres, espontâneas ou cultivadas. Muitas espécies de PANC são consideradas como ´´mato´´, ´´inços´´, ´´daninhas´´ ou sem utilidade (KINUPP; LORENZI, 2014).

O projeto de PANC vinculado a Sala Verde pretende questionar o consumismo, injustiças socioambientais e a produção de alimentos no mundo, baseado em monocultura e uso de agrotóxicos, em diferentes esferas culturais, econômicas, sociais, ambientais, dentre outras. Transformar a relação das pessoas com o cultivo e uso de alimentos e desmitificar o preconceito ou ignorância sobre a ideia de comer “mato”, demonstrando que tais plantas podem ser saborosas e valiosas do ponto de vista nutricional. Expandir o conhecimento e consumo das PANC, por meio da Educação.

Para atingir os objetivos almejados são realizadas oficinais de formação, a construção de uma casa de vegetação com espécies de PANC, e a elaboração de material didático, sempre enfatizando a visão crítica em relação a nossa alimentação atual, a importância da identificação e o uso correto das PANC.

Processos educativos relacionados à utilização de mandalas sensoriais para a formação de professores e alunos: as hortas e mandalas sensoriais são espaços propícios às experiências corporais, e segundo Gasparotto (2015, p. 16) proporcionam as mais diversas sensações captadas pelos órgãos dos sentidos, como observar, cheirar, tocar e até degustar plantas medicinais, condimentares e plantas não convencionais (PANC) enquanto os visitantes realizam o circuito sensorial.

A implantação de uma mandala sensorial na Universidade possibilita a criação de um espaço interdisciplinar de aprendizagem (Figura 6), interação e contato com a natureza, caracterizando uma ferramenta de ensinopara formação de educadores ambientais, e a transposição de conhecimentos das mais diversas áreas. Como forma de proporcionar um espaço para aprendizado e convivência, as mandalas sensoriais vêm ganhando cada vez mais espaço no ambiente formal tornando-se parte do processo educativo, podendo constituir um excelente mecanismo de promoção da Educação Ambiental.

Desse modo, a existência de uma mandala sensorial junto à Sala Verde Nas Ondas do Rio Iguaçu permite a implementação da interdisciplinaridade em prática por meio de projetos e oficinas, que de acordo com Augusto e Caldeira (2007), com a possibilidade de inserir partes no todo e fazer conexões de uma forma abrangente e contextualizada na construção do conhecimento. Assim sendo, esse laboratório vivo proporciona a construção de uma rede de ligação entre as diferentes áreas, promovendo discussões e planejamento de ações entre os professores e alunos durante as formações realizadas.

Sendo assim, essa estrutura tem por objetivo fomentar as necessidades de ferramentas educacionais em relação à Educação Ambiental, permitindo realizar atividades em todas as disciplinas da Educação Básica, por exemplo, Ciências, Matemática, Português, Geografia, História, Sociologia, Inglês, Educação Física, dentre outras.

Salienta-se ainda que a mandala foi planejada considerando-se a acessibilidade, visando a realização de atividades inclusivas, justamente pelo caráter sensorial das plantas escolhidas, tornando o ambiente propício ao estímulo dos diferentes órgãos dos sentidos.