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Reitor da UTFPR no Vaticano: rede internacional pela sustentabilidade

“Las universidades son sinónimo de esperanza. Gracias por tu colaboración”, respondeu o Papa ao reitor da UTFPR

publicado: 26/09/2023 18h01 última modificação: 28/09/2023 14h24

Pela primeira vez na história, reitoras e reitores da América Latina e do Caribe foram recebidos pelo chefe de Estado do Vaticano, no modelo de uma missão de trabalho conjunto. A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) marcou presença no evento, denominado Organizando a Esperança, com o objetivo de debater questões relacionadas à sustentabilidade e às relações humanas, promovido pela instituição Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum e a Comissão Pontifícia para a América Latina.

No encontro - reunião de trabalho - com o Papa Francisco, abordou-se mudança climática, biodiversidade, meio ambiente, formação de recursos humanos, inteligência artificial e relações internacionais entre os diferentes povos sob o prisma humanitário, com destaque para os movimentos migratórios e de refugiados. No final da reunião, que durou duas horas, houve o compromisso de todos os reitores participantes de apoiarem e promoverem ações que visem ao avanço sustentável das sociedades no planeta, considerando os aspectos social, ambiental e econômico.

O Pontífice destacou a importância de uma ciência que vá além da teoria e que chegue aos mais necessitados. Também foi entregue ao Papa um manifesto assinado por todos os reitores, de compromisso com a Ética na Inteligência Artificial (“Roma apela para a ética em Inteligência Artificial” – o documento, na íntegra, está no final da reportagem).

“Foram dias de trabalho intenso e produtivo”, explicou o reitor da UTFPR, Marcos Schiefler. “Quando chegamos ao Vaticano, ao longo do primeiro dia, fomos reunidos em quatro grupos de trabalho temáticos para debater e elaborar perguntas a serem feitas ao anfitrião no dia seguinte, com base na proposta e objetivos do encontro”. Schiefler esteve ao lado de outros cerca de 150 reitores de toda a América Latina e do Caribe, representantes de Universidades públicas, confessionais e privadas, durante a programação de três dias, em que foram debatidas e apresentadas as questões relativas à importância de se buscar medidas para um mundo com menos poluentes e destruição ambiental, mais justiça social e equidade e formação de cidadãos preparados para os desafios do mundo moderno, entre outras.

A delegação brasileira foi composta por 37 reitoras e reitores de todas as regiões do país. O reitor da UTFPR explica que a programação, vigorosa, ultrapassou a reunião com o papa, ocorrida no segundo dia; “neste mesmo dia, fomos recebidos pelo embaixador do Brasil no Vaticano, senhor Everton Vieira Vargas, que colocou a Embaixada totalmente à disposição para intermediar ações e acordos com as seis Universidades Vaticanas, em diferentes áreas de interesse. Já no terceiro dia, fomos recebidos pelo reitor Massimiliano Fiorucci para uma reunião na Reitoria da Universidade Roma Tre, quando, dentre outras questões, buscamos o estreitamento nas relações entre as universidades brasileiras e a italiana. Na oportunidade, foi renovado o acordo de cooperação com o Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB), um dos apoiadores do encontro, o que permitirá o prosseguimento e fortalecimento de trabalhos em parceria. Na sequência, tivemos uma importante audiência com o embaixador Renato Mosca de Souza, na Embaixada do Brasil em Roma. O diplomata, recém-designado para o cargo, colocou a estrutura da Embaixada totalmente à disposição para apoiar novos acordos e também fortalecer a cooperação das Universidades italianas com as brasileiras.

O convite para a UTFPR foi formalizado por meio da União de Universidades de América Latina e Caribe (UDUALC), da qual o reitor da Universidade, Marcos Schiefler, atualmente é o vice-presidente Brasil, como membro do Conselho Executivo, em conjunto com o GCUB, ao qual a UTFPR é associada.

Para o reitor, “é indescritível o senso de responsabilidade pelo mundo em que vivemos, a nossa Casa Comum, que o evento ratificou. Além disso, entender as Universidades da América Latina e do Caribe, tendo a nossa UTFPR dentre elas, como articuladoras e promotoras de ações responsáveis, é reconhecer nossa importância. Neste sentido, o atual Pontífice, que é latino-americano, tem um papel significativo”.

Um dos pontos fortes do evento foi a opção do Papa Francisco de, mesmo considerando sua agenda comprometida, cumprimentar individualmente e trocar algumas ideias com cada um dos reitores participantes. Ao se encontrar com o Papa, Schiefler se apresentou como representante da única Universidade Tecnológica brasileira e colocou a Instituição à inteira disposição para contribuir na construção de um mundo melhor e mais fraterno para todos, dentro do espírito de mais esperança e cuidados com a Casa Comum. Francisco respondeu: “Las universidades son sinónimo de esperanza, gracias por tu colaboración”.

Nos próximos dias, na Universidade, o reitor Schiefler irá se encontrar com o assessor de Sustentabilidade da UTFPR, Daniel Poletto, para alinhar atividades que serão realizadas em todos os campi da Universidade já no mês de outubro, na semana da Sustentabilidade.

 

Carta-compromisso assinada pelos reitores:

 

Roma apela pela ética na Inteligência Artificial

 

A “inteligência artificial” (IA) traz mudanças profundas na vida dos seres humanos e vai continuar fazendo isso. A IA oferece um potencial enorme quando se trata de melhorar a coexistência social e o bem-estar pessoal, aumentando as capacidades humanas e permitindo ou facilitando muitas tarefas que podem ser feitas mais eficiente e eficazmente. No entanto, estes resultados não são garantidos. As transformações em curso não são apenas quantitativas. Acima de tudo, são qualitativos, porque afetam a forma como esses feitos são realizados e a forma como percebemos a realidade e a própria natureza humana, tanto que podem influenciar os nossos hábitos mentais e interpessoais. As novas tecnologias devem ser pesquisadas e produzidas de acordo com critérios que garantam que servem verdadeiramente toda a “família humana” (Preâmbulo, Decl. Univ. Direitos Humanos), respeitando a dignidade inerente a cada um dos seus membros e a todos os ambientes naturais, e levando em conta as necessidades dos mais vulneráveis. O objetivo não é apenas garantir que ninguém seja excluído, mas também expandir as áreas de liberdade que podem ser ameaçadas pelo condicionamento algorítmico.

Dada a natureza inovadora e complexa das questões colocadas pela transformação digital, é essencial que todas as partes interessadas trabalhem em conjunto e que todas as necessidades afetadas pela IA sejam representadas. Esta Chamada é à passo em frente com vistas a crescer com um entendimento comum e à procura de uma linguagem e soluções que possamos partilhar. Com base nisto, podemos reconhecer e aceitar responsabilidades que tenham em conta todo o processo de inovação tecnológica, desde a concepção até à distribuição e utilização, incentivando um verdadeiro compromisso numa série de cenários práticos. A longo prazo, os valores e princípios que conseguirmos incutir na IA ajudarão a estabelecer um quadro que regule e atue como ponto de referência para a ética digital, orientando as nossas ações e promovendo o uso da tecnologia em benefício da humanidade e do mundo. ambiente.

Agora, mais do que nunca, nós precisamos garantir uma perspectiva em que a IA seja desenvolvida com foco não na tecnologia, mas no bem da humanidade e do ambiente, da nossa casa comum e partilhada e dos seus habitantes humanos, que estão inextricavelmente conectados. Por outras palavras, uma visão em que os seres humanos e a natureza estejam no coração de como a inovação digital é desenvolvida, apoiada em vez de gradualmente substituída por tecnologias que se comportam como atores racionais, mas que não são humanas. É hora de começar a preparar um futuro mais tecnológico, no qual as máquinas terão um papel mais importante na vida dos seres humanos, mas também um futuro em que é claro que o progresso tecnológico afirme o brilho da raça humana e permaneça dependente da sua integridade ética.

 

ÉTICA

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns para com os outros num espírito de fraternidade (cf. Art. 1, Decl. Univ. dos Direitos Humanos). Esta condição fundamental de liberdade e dignidade também deve ser protegida e garantida na produção e utilização de sistemas de IA. Isto deve ser feito salvaguardando os direitos e a liberdade dos indivíduos, para que não sejam discriminados por algoritmos devido à sua “raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, propriedade, nascimento ou outro estatuto” (Art. 2º, Decl. Univ. Direitos Humanos).

Os sistemas de IA devem ser concebidos, projetados e implementados para servir e proteger os seres humanos e o ambiente em que vivem. Esta perspectiva fundamental deve traduzir-se num compromisso de criar condições de vida (tanto sociais como pessoais) que permitam que tanto os grupos como os membros individuais se esforcem para se expressarem plenamente sempre que possível.

Para que o avanço tecnológico se alinhe com o verdadeiro progresso da raça humana e com o respeito pelo planeta, é necessário que se cumpram três requisitos. É preciso incluir todos os seres humanos, sem discriminar ninguém; deve-se ter no coração o bem da humanidade e o bem de cada ser humano; por último, é necessário estar atento à realidade complexa do nosso ecossistema e caracterizar-se pela forma como se cuida e protege o planeta (a nossa “casa comum e partilhada”) com uma abordagem altamente sustentável, o que inclui também a utilização da Inteligência Artificial na garantia de sistemas de alimento sustentável no futuro. Além disso, cada pessoa deve estar atenta quando está interagindo com uma máquina.

A tecnologia baseada em IA nunca deve ser utilizada para explorar as pessoas de qualquer forma, especialmente as mais vulneráveis. Em vez disso, deve ser usada para ajudar as pessoas a desenvolverem as suas capacidades (capacitação/capacitação) e para apoiar o planeta.

 

EDUCAÇÃO

Transformar o mundo através da inovação da IA significa comprometer-se a construir um futuro para e com as gerações mais jovens. Este compromisso significa promover a qualidade da educação que os jovens recebem; isto deve ser conseguido através de métodos que sejam acessíveis a todos, que não discriminem e que possam oferecer igualdade de oportunidades e tratamento. O acesso universal à educação deve ser alcançado através de princípios de solidariedade e justiça.

O acesso à aprendizagem ao longo da vida deve ser garantido também aos idosos, aos quais deve ser oferecida a oportunidade de acesso a serviços off-line durante a transição digital e tecnológica. Além disso, estas tecnologias podem revelar-se úteis para ajudar as pessoas com deficiência a aprender e a tornarem-se mais independentes: a educação inclusiva significa, portanto, também utilizar a IA para apoiar e integrar cada pessoa, oferecendo ajuda e oportunidades de participação social (por exemplo, trabalho remoto para aqueles com deficiência). mobilidade limitada, apoio tecnológico para pessoas com deficiências cognitivas, etc.).

O impacto das transformações provocadas pela IA na sociedade, no trabalho e na educação tornou essencial a revisão dos currículos escolares para tornar realidade o lema educativo “ninguém é deixado para trás”. No setor da educação, são necessárias reformas para estabelecer padrões elevados e objetivos que possam melhorar os resultados individuais. Estas normas não devem limitar-se ao desenvolvimento de competências digitais, mas devem centrar-se, em vez disso, em garantir que cada pessoa possa expressar plenamente as suas capacidades e em trabalhar para o bem da comunidade, mesmo quando não houver nenhum benefício pessoal a ser obtido.

À medida em que concebemos e planejamos a sociedade para o amanhã, a utilização da IA deve seguir formas de ação socialmente orientadas, criativas, conectadas, produtivas, responsáveis e capazes de ter um impacto positivo na vida pessoal e social das gerações mais jovens. O impacto social e ético da IA também precisa estar no centro das atividades educativas da IA.

O principal objetivo desta educação deve ser a sensibilização para as oportunidades e para as possíveis questões críticas colocadas pela IA na perspectiva da inclusão social e do respeito individual.

 

DIREITOS

O desenvolvimento da IA ao serviço da humanidade e do planeta deve refletir-se em regulamentos e princípios que protejam as pessoas – especialmente os mais fracos e desfavorecidos – e os ambientes naturais. O compromisso ético de todas as partes interessadas envolvidas é um ponto de partida crucial; para tornar este futuro uma realidade, valores, princípios e, em alguns casos, regulamentações legais, são absolutamente indispensáveis para apoiar, estruturar e orientar o processo.

 

Para desenvolver e implementar sistemas de IA que beneficiem a humanidade e o planeta, enquanto atuam como ferramentas para construir e manter a paz internacional, o desenvolvimento da IA deve andar de mãos dadas com medidas robustas de segurança digital.

Para que a IA funcione como uma ferramenta para o bem da humanidade e do planeta, devemos colocar o tema da proteção dos direitos humanos na era digital no centro do debate público. Chegou a hora de questionar se as novas formas de automação e atividade algorítmica necessitam do desenvolvimento de responsabilidades mais fortes. Em particular, será essencial considerar alguma forma de regulamentação: devemos pensar em tornar compreensíveis não só os critérios de tomada de decisão dos agentes algorítmicos baseados em IA, mas também a sua finalidade e objetivos. Esses dispositivos devem ser capazes de oferecer aos indivíduos informações sobre a lógica por trás dos algoritmos usados para tomar decisões. Isto aumentará a transparência, a rastreabilidade e a responsabilidade, validando o processo de tomada de decisão informatizado.

Novas formas de regulamentação para promover a transparência e o cumprimento dos princípios éticos, especialmente para tecnologias avançadas que apresentam maior risco de impactar os direitos humanos, como o reconhecimento facial, devem ser implementadas.

Para atingir estes objetivos, temos que partir desde o início do desenvolvimento de cada algoritmo com uma visão “ética algorítmica”, ou seja, uma abordagem de ética desde o design. Projetar e planejar sistemas de IA em que possamos confiar envolve a busca de consenso entre os políticos que tomam decisões, as agências do sistema das Nações Unidas e outras organizações intergovernamentais, os pesquisadores, o mundo académico e os representantes de organizações não governamentais relativamente aos princípios éticos que devem ser incorporados nestes sistemas tecnológicos. Por esta razão, os responsáveis pela convocatória manifestam o desejo de trabalhar em conjunto, neste contexto e em âmbito nacional e internacional, para promover a “ética algorítmica”, nomeadamente a utilização ética da IA conforme definida pelos seguintes princípios:

1. Transparência: por princípio, os sistemas de IA devem ser explicáveis;

2. Inclusão: as necessidades de todos os seres humanos devem ser levadas em consideração para que todos possam se beneficiar e sejam oferecidas a todos os indivíduos as melhores condições possíveis para se expressarem e se desenvolverem;

3. Responsabilidade: quem projeta e implanta o uso da IA deve proceder com responsabilidade e transparência;

4. Imparcialidade: não se deve criar ou agir de acordo com preconceitos, salvaguardando assim a justiça e a dignidade humana;

5. Confiabilidade: os sistemas de IA devem ser capazes de funcionar de forma confiável;

6. Segurança e privacidade: Os sistemas de IA devem funcionar de forma segura e respeitar a privacidade dos usuários.

 

Esses princípios são elementos fundamentais para uma boa inovação.