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Cláudia Kanoni, jornalista, mestranda e imparável

MULHERES NA UNIVERSIDADE

Aluna do PPGPGP fala sobre sua relação com políticas públicas
publicado: 08/11/2023 15h39 última modificação: 08/11/2023 15h39

Desde adolescente, no interior da Bahia, Cláudia Kanoni sempre esteve em contato com pautas sociais e políticas públicas. Impulsionada por professores, lançou seu primeiro livro com 17 anos, uma coleção de poesias com denúncias de questões sociais. Era um prelúdio do que viria ser a Cláudia futuramente: mulher militante, movida pela paixão por políticas públicas e pelo sentimento de responsabilidade com a luta social.

Kanoni agora é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Governança Pública  (PPGPGP) da UTFPR Curitiba. Com 29 anos, a jornalista carrega uma bagagem variada de conhecimentos e o desejo de sempre produzir e entregar mais.

Para o futuro, Cláudia irá lançar outro livro, previsto para julho de 2024, com perfis jornalísticos feitos por ela. A obra reunirá outras comunicadoras negras para escrever sobre mulheres negras em diversas esferas da sociedade, seguindo o gênero do perfil jornalístico, que une a esfera literária a questões sociais, sem perder a leveza da escrita.   

 

Pode contar um pouco sobre sua trajetória de vida até hoje? Por que Curitiba?

Sou natural da cidade de Una, na Bahia. Tenho 29 anos e moro em Curitiba desde 2014. Escolhi Curitiba quando fiz 19 anos. Tinha lançado um livro na época, “Um Grito em Poemas”, que reunia 25 temas de assuntos socialmente relevantes, considerados problemas públicos e falei sobre eles através da poesia. Comecei a viajar pela Bahia e isso despertou em mim o desejo de ir embora.

Sou de uma cidade muito pequena, então as oportunidades ali se encerram muito rápido. Nesse período, comecei a pesquisar uma cidade que fosse boa para cultura e para a arte e fiquei encantada com Curitiba. Quando cheguei, ainda não tinha sido aprovada no vestibular, foi inicialmente para recomeçar a vida. 

 

Antes de decidir a sua graduação, você testou outros cursos. Quais aprendizados carrega consigo a partir dessas experiências?

Eu fugi muito do jornalismo. Tive uma resistência muito grande com esse curso. Venho de uma família que não tem histórico universitário. Na minha família, as pessoas não entravam no ensino superior. Quando decidi fazer uma universidade, eu não tinha em perspectiva apenas um amor por uma profissão. Como a maioria dos jovens, escolhi uma universidade porque era também uma oportunidade de estabilidade financeira.

Sempre soube que gostava de escrever, de temáticas sociais, de pessoas, mas sempre recusei o universo da Comunicação. Então, passei primeiro pelo curso de Administração, mas não me identifiquei. Ganhei bolsa, pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), em Engenharia Ambiental, em Direito e aí, quando vi que realmente não ia dar certo, tentei uma área próxima ao Jornalismo.

Fiz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e fui aprovada em Comunicação Organizacional na UTFPR. Comecei o curso, mas não era exatamente o que eu queria. Após passar por uma crise emocional, resolvi ceder e fazer o vestibular de Jornalismo para a UFPR. Foi uma experiência incrível, acessei a paixão que tinha em mim. Eu queria aquele curso. É muito intenso para mim tudo relacionado ao Jornalismo. O que me incomoda nele, transformei em objeto de pesquisa e o que me alegra, trago para os meus projetos, mas é algo transitório na minha vida. Vejo a Comunicação como um grande hobby. Pretendo, na verdade, trabalhar com gestão pública. 

 

E com relação ao mestrado na UTFPR, como está sendo sua experiência? 

Estou muito feliz, pois consegui fazer da minha ação, enquanto estudante, um projeto de pesquisa e embasar em um discurso científico a percepção de mundo que tive na graduação e, consequentemente, levar isso para um mestrado, doutorado e futuramente como um professora universitária também.

Tenho uma tese dentro da minha dissertação relacionada à extensão universitária e a importância dela para o desenvolvimento científico e tecnológico. Inclusive, a própria extensão pode ser usada como critério para embasar a pesquisa, pois é o conhecimento empírico pautando a produção de ciência. 

 

Sua vivência acadêmica é marcada por políticas públicas. Como isso ajudou a moldar sua carreira? 

Fui uma criança que viveu um contexto de fragilidade, mas meus professores insistiram em mim. Hoje sou fruto da escola, de professores que não desistiram de mim e também fui alcançada pelas políticas públicas educacionais. Então, despertei um amor muito grande por isso e sinto, também, que tenho uma habilidade de gestão e escolhi estudar para me capacitar, porque eu não queria viver esses espaços apenas baseada nas minhas experiências pessoais. Preciso ser especialista para sustentar esses espaços. 

 

Outro ponto muito relevante na sua trajetória é a militância. Como mulher negra, primeira da sua família a entrar na universidade, qual o papel da luta social na sua vida?

Sou o que sou porque pessoas lutaram lá atrás para que eu estivesse aqui. Sinto que é uma responsabilidade minha continuar esse processo, garantindo que as futuras meninas, mulheres, acessem esses espaços e façam muito mais do que eu imagino fazer. Para que esse ciclo se mantenha e a gente corrija a disparidade de gênero que existe na sociedade, é necessário se comprometer com essa luta agora. 

 

Qual a importância de mulheres como você na universidade? Como tornar isso uma realidade cada vez mais presente? 

O protagonismo de mulheres na universidade é muito importante para garantir a representatividade, a diversidade, a igualdade de gênero. A presença de mulheres na produção de ciência amplia a perspectiva, além de ajudar a quebrar o estereótipo, porque existe ainda uma ideia, um preconceito, sobre qual o papel da mulher, ela ainda precisa se reafirmar dentro da universidade, da produção científica e acho que cada vez que mulheres vão assumindo esse posto e se transformando em lideranças, em referências de produção de saber, a gente tem um avanço não só na pesquisa ou na ciência, mas na sociedade como um todo.