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Projeto de pesquisa pratica leitura com detentas
CIÊNCIA
O projeto de pesquisa “Nas tramas da liberdade: A leitura como experiência estética no Centro de Integração Social da Penitenciária Feminina de Piraquara”, tem o objetivo de analisar como as práticas de leitura contribuem para significar as experiências pessoais e as interações sociais no espaço-tempo da unidade prisional. A pesquisadora de mestrado Thays Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (PPGEL), realizou oficinas com as detentas, a partir de leituras coletivas e conversas sobre os textos, procurando captar o entendimento das participantes.
A ideia da pesquisa partiu da importância que a autora atribui à leitura. “Quando penso na leitura, lembro logo da imagem de crianças, que ao terem os primeiros contatos com os livros, nas fases pré-alfabetização, o abrem e colocam sobre as cabeças como se fossem um telhado. Talvez este seja o significado mais sublime da leitura para mim. Ler é como voltar para casa, como voltar para onde nos sentimos seguros. Pensando nisso, quis proporcionar a elas a sensação de voltar para casa, de ressignificar suas vivências por meio da leitura”, explica.
A dissertação de Thays está na fase final, passando pela análise dos dados coletados na pesquisa de campo. “Ainda estou analisando os dados, mas de antemão já posso adiantar que a leitura é essencial para a construção de relações de alteridade, para a expressão pessoal e como exercício da liberdade, mesmo em um ambiente repleto de restrições como é o sistema prisional”, adianta a autora do projeto.
Oficinas
Ao todo, foram realizadas oito oficinas de leituras, com 15 participantes fixas e textos diferentes em cada uma delas – livros, contos, crônicas, poemas, animações e textos imagéticos. A troca de experiências de leitura se misturou com histórias de vida das participantes.
Durante as oficinas, Thays mapeou como as mulheres dialogavam e interagiam com os textos para produzir sentidos, e como as práticas de leitura ajudam a desenvolver o gosto pela literatura. Neste processo, a autora e a orientadora, professora Maria de Lourdes Rossi Remenche, transformaram as oficinas em projeto de extensão, o que permitiu a entrega de certificados da UTFPR para todas as mulheres. Os certificados podem ser utilizados para atestar a participação das oficinas e solicitar a remição de pena correspondente aos dias do projeto. “Não é só ciência. É um ideal de vida, levar a leitura àquelas pessoas que não tem oportunidade de desfrutá-la como se deve. Na minha carreira acadêmica este é um trabalho marcante, que me proporcionou levar os conhecimentos adquiridos na academia para fora, de uma forma que fizesse uma diferença real na sociedade”, afirmou Thays.
O projeto também se desdobrou em uma campanha de doação de livros para a biblioteca da unidade, resultando em mais de 350 livros doados. “Sou professora há muitos anos e vejo, no meu dia a dia, as pessoas encasteladas em suas torres de marfim sem saber a real função dos seus saberes. Para mim, de nada vale a teoria, se não pudermos aplicá-la para fazer a diferença na vida de alguém. A luta por uma sociedade mais humana, fraterna e menos desigual passa pela academia e foram estes ideais que nortearam todo meu projeto”, finaliza.