Notícias
Especial
"Eu sou capaz de fazer o que eu quiser, na hora que eu quiser, e no tempo certo. O meu tempo é agora com 33 anos.”
A personagem da nossa reportagem especial do Dia da Mulher é Camila Vital. Aos 30 anos, após passar por alguns percalços em sua vida, ela decidiu que iria ingressar em um curso superior. Não imaginava que seria em uma universidade federal.
Camila sempre foi adepta aos esporte. Aos 17 anos morava em Ortolândia (SP), participava de campeonatos em diversas modalidades, como judô e xadrez, quando descobriu que estava com um tumor entre o coração e o pulmão e corria risco de morte. Após a cirurgia ficou limitada, já que não podia fazer esforço, passou a desacreditar de seu potencial ao ter que abandonar o esporte e entrou em depressão. “Eu acreditava muito no esporte mas não na educação em si e por isso não busquei o ensino superior. Estava desiludida”.
Ela casou com seu melhor amigo, teve dois filhos e foi com sua família viver em Belém (PA). Como o empreendimento não prosperou retornaram a São Paulo e decidiram vir morar em Francisco Beltrão, após seu marido receber uma proposta de emprego.
Novos desafios
Em Francisco Beltrão Camila começou a conviver com pessoas dedicadas ao estudo. “Fiz amigos que com 23 anos já estavam no doutorado e eu estava com quase 30 e não tinha nem pensado na graduação. Falei pra mim mesma: quando chegar aos 30 ou eu bem estudo e trabalho ou eu bem não vou fazer mais nada na vida”.
Camila foi aprovada em um concurso municipal e estava fazendo curso técnico quando descobriu um novo tumor e precisou passar por uma nova cirurgia. “Foi então que conversei com meu marido e contei com seu apoio quando disse que gostaria de me dedicar a uma graduação, que era o que no momento, iria me fazer feliz”.
A cirurgia foi em setembro e a prova do Enem em novembro. “O que me ajudou a ter uma boa nota foi que, apesar de todos os contratempos, eu nunca parei de ler e me atualizar”. Camila via a UTFPR como impossível “era a federal de Beltrão, com pessoas mais novas que eu disputando. Consegui entrar por cotas, chorei, pulei de emoção, mas não contei para ninguém pois imaginava que as pessoas iriam me repreender por estar tirando a oportunidade de pessoas mais novas.”
Quando Camila estava com a vaga garantida passou por um sentimento que muitas mulheres enfrentam no seu dia a dia. O sentimento de culpa por abrir mão de um tempo extra com os filhos para se dedicar a algo que não os envolve.
“Nos limitamos para fazer as coisas, colocamos desculpas. O curso de Engenharia Ambiental é em período integral, não é fácil conciliar, mas é totalmente possível. Falei para meus filhos: agora a mãe vai precisar da compreensão de vocês por não estar tão presente, agora eu também vou estudar. A decisão não foi fácil mas eu pensei: quando eu terminar a graduação, eles vão ser adolescentes e não vão precisar mais de mim. E daí o que eu vou ser pra mim?” Ela contou com a ajuda de seus pais que se mudaram para Francisco Beltrão e a apoiaram.
Conselho
Ao passar por tantos desafios em sua vida, Camila está feliz com suas decisões. Participa de atividades extras ofertadas pela universidade, como o Coral e dá um conselho aos que pensam em desistir. “A dificuldade está em todo lugar, pois está dentro da gente. Se não lutarmos contra nós mesmos nunca vamos concluir nada. Nunca é tarde pra nada, em nenhuma circunstância. Optei por casar e depois estudar e recebi muitas críticas, outros optam por trabalhar e não estudar. Sempre haverá alguém criticando. Mas nunca é tarde para mudar de ideia e ir atrás dos novos sonhos. Eu sou capaz de fazer o que eu quiser, na hora que eu quiser, e no tempo certo. O meu tempo é agora com 33 anos.”