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Especialista alerta para cuidados com infraestrutura agrícola

Prevenção

Pesquisador do Campus Dois Vizinhos enfatiza a necessidade de se tomar e observar medidas preventivas
publicado: 28/07/2023 17h22 última modificação: 28/07/2023 17h22
Silo, infraestrutura agrícola muito utilizada no Brasil (Foto: Juliano Ribeiro)

Silo, infraestrutura agrícola muito utilizada no Brasil (Foto: Juliano Ribeiro)

O acidente que aconteceu em Palotina na última quarta-feira (26) acende um alerta a respeito dos riscos que o armazenamento de grãos em silos pode oferecer. Um desses tem a ver com o pó em suspensão que é gerado nestes ambientes e que pode servir como combustível para uma explosão. No Campus Dois Vizinhos da UTFPR, o professor Jean Carlo Possenti ministra a disciplina ‘Logística e pós-colheita de grãos’, na qual aponta os potenciais perigos que há na armazenagem de grãos.

Os silos são estruturas que podem ser horizontais ou verticais, construídas com materiais como concreto, misto de concreto e metal ou apenas metal. Junto aos silos, são construídos túneis, onde são instaladas correias transportadoras para movimentação dos grãos a granel.

Ao ser descarregado na unidade armazenadora, o grão traz consigo uma série de impurezas, como resto de palha, solo e insetos. Tudo isso, além do próprio grão quebrado durante o transporte e no armazenamento, gera uma poeira composta por resíduos orgânicos que fica em suspensão e pode ser inflamável. 

De acordo com Possenti, a poeira sozinha não é perigosa, pois, para ocorrer a explosão, é necessário que haja o “triângulo do fogo”: oxigênio, combustível e faísca. “Numa unidade armazenadora, o combustível é o pó em suspensão e a faísca pode ocorrer com metais atritando, funcionamento de equipamentos, centelha elétrica, cargas estáticas ou até com uma lâmpada que se quebra e não tem a devida proteção”, explica. Além disso, o pó em suspensão pode ajudar a propagar faíscas no ar, caso esteja em um ambiente confinado e com baixa umidade relativa do ar.

Outro fator de risco nos silos é a geração de gases. “Há sempre uma grande formação de gases, principalmente metano, que ocorre pela própria fermentação dos grãos”, afirma o professor. Alguns desses gases, além de serem tóxicos, também podem ser inflamáveis, servindo de combustível no “triângulo do fogo”.

Diante destes riscos, Jean Carlo Possenti enfatiza a necessidade de se tomar e observar medidas preventivas. “Um responsável técnico que trabalha no gerenciamento de uma planta de armazenamento de grãos precisa saber que está num ambiente de alto risco”, alerta.

Algumas das medidas preventivas que podem ser adotadas são a cuidadosa limpeza dos grãos no momento do seu recebimento, a adoção e uso contínuo de sistemas de captação de pó, de preferência em toda a planta, a limpeza periódica dos sistemas de captação, com troca e limpeza de filtros, a limpeza das instalações com aspiradores industriais, a constante manutenção de equipamentos eletromecânicos e de cabos elétricos, a redução da possibilidade de atrito entre materiais metálicos, substituindo-se peças de metal por plásticas quando possível e a capacitação de funcionários, que precisam saber dos riscos envolvidos. “Os túneis e galerias têm risco maior de alta concentração de gases e pó e por isso nestes locais há mais necessidade de ventilação constante e troca de ar”, completa Possenti.

Segundo o professor da UTFPR, no Brasil já existe legislação específica, além de vistorias, inspeções e certificações de unidades armazenadoras. Por outro lado, nós também lidamos com dois desafios: supersafras e uma histórica deficiência de capacidade de armazenamento de grãos. “Em uma supersafra, o volume de trabalho acaba sendo gigantesco nessas unidades”, conta. Somado a isso, há o fato de que o Brasil consegue armazenar 70 a 80% do que produz nas safras, ocasionando a necessidade de operações mais rápidas. Com pressa e grande volume de trabalho, há o risco de algumas regras de segurança passarem despercebidas.

Diante desse cenário, Jean Carlo Possenti evidencia a importância de se trabalhar com uma constante checagem. “O principal ponto para que haja menos riscos nestes ambientes é a conscientização das pessoas que trabalham nestes locais de que a situação é potencialmente perigosa”, diz, afirmando que um conjunto de procedimentos de segurança deve ser sempre observado para que acidentes sejam evitados.