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Condições de trabalho em Plataformas são avaliadas por pesquisadores

Fairwork Brasil

Primeiro relatório apontou que nenhuma plataforma brasileira obteve mais de 2 pontos, quando a nota máxima é 10
publicado: 29/03/2022 13h27 última modificação: 31/10/2022 09h47
Foto: Freepik

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Um grupo de pesquisadores de 27 países vem estudando como são as condições de trabalho nas principais plataformas de serviço ofertadas pelo mundo. As de entregas de produtos em geral, entregas de alimentos, transporte de pessoas em veículos, por exemplo, fazem parte do primeiro relatório da rede Fairwork no Brasil sobre as condições de trabalho dos profissionais que prestam serviço a essas plataformas.

A professora do Departamento Acadêmico de Linguagem e Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) do Campus Curitiba, Claudia Nociolini Rebechi, é uma das pesquisadoras da equipe brasileira do projeto, desde 2020. A coordenação geral no País é feita pelo professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Rafael Grohmann, e a rede conta ainda com a participação de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da ECA-USP, da PUC-RJ, da UFRGS e da UFRJ.

Recentemente, o relatório publicado pela Fairwork apontou problemas em plataformas como Uber, 99, iFood, Rappi e Get Ninjas, apresentando que elas não oferecem as condições mínimas de trabalho decente.

O levantamento demonstrou que nenhuma plataforma brasileira obteve mais de 2 pontos (máximo de 10), em avaliação baseada em cinco princípios de trabalho justo: remuneração, condições de trabalho, contratos, gestão e representação justos.

iFood e 99 obtiveram apenas 2 pontos cada, enquanto a Uber recebeu 1 ponto. Rappi, Get Ninjas e Uber Eats ficaram com zero na classificação (apesar da Uber Eats constar do estudo, realizado em 2021, o serviço de entrega de alimentos da Uber encerrou suas atividades no Brasil em março deste ano).

Segundo os pesquisadores do projeto Fairwork, o resultado é semelhante ao de outros países da América Latina, como Chile e Equador, mas pior do que o de continentes como África, Ásia e Europa, onde há plataformas com notas altas, como 7 ou 8 pontos.

Para Claudia Rebechi, é comum as plataformas criarem estratégias de comunicação institucional oportunistas com o propósito de convencer pessoas e instituições quanto a sua suposta responsabilidade social, em especial no que diz respeito ao mundo do trabalho. “Os próprios trabalhadores ligados às plataformas, em geral, percebem, no seu cotidiano, que suas condições de trabalho não são dignas e decentes, tal como as empresas querem convencê-los. Os trabalhadores de plataforma, inclusive, já fizeram paralisações, no Brasil e em outros lugares do mundo, para reivindicar melhores condições de trabalho e para que as empresas realmente realizem ações concretas em prol de requisitos mínimos do trabalho decente”, destaca.

"Quando a plataforma divulga uma campanha no dia internacional da mulher, por exemplo, e diz que apoia a diversidade, o que ela faz não é política institucional, e sim publicidade", completa a pesquisadora.

Fairwork

Fairwork é um projeto de pesquisa criado em 2018, sediado no Oxford Internet Institute e no WZB Berlin Social Science Centre, presente em mais de 25 países de cinco continentes. O objetivo é ajudar trabalhadores, sindicatos, consumidores, gestores de plataformas e formuladores de políticas a tornar as plataformas responsáveis pelas suas práticas, indicando áreas de melhoria para que sejam alcançadas condições dignas de trabalho. é mostrar que empregos melhores e mais justos são possíveis na economia de plataforma.

O Projeto Fairwork considera que é possível e necessário haver a garantia de um padrão básico de trabalho decente na economia de plataforma, levando em conta, inicialmente, os parâmetros estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como: remuneração justa, contratos justos, representação justa, condições justas e gestão justa.

O trabalho mediado pelas plataformas é avaliado a partir de um percurso metodológico que abarca os seguintes procedimentos de investigação: pesquisa documental, entrevistas com os gestores das plataformas e entrevistas com os próprios trabalhadores. As informações e os dados coletados são analisados em cada um dos cinco princípios estabelecidos para resultar em pontuações que mostrarão se as empresas de plataformas estão respeitando padrões mínimos de trabalho decente.

A partir de agora, o Fairwork Brasil inicia sua segunda rodada de avaliação. Haverá aumento do número de plataformas avaliadas, incluindo mais setores - por exemplo, trabalho doméstico. A equipe também contará com pesquisadores de mais universidades brasileiras. O segundo relatório está previsto para ser lançado no mês de dezembro.