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Pesquisadores estudam o comportamento do solo e da água nas lavouras

Dois Vizinhos

Uma das pesquisas visa avaliar o impacto ambiental de plantações sem a técnica de terraceamento
publicado: 25/04/2023 10h44 última modificação: 26/04/2023 08h05
Foto: acervo pessoal

Foto: acervo pessoal

O Grupo de Pesquisa em Ciência do Solo (GPCS) do Campus Dois Vizinhos vem realizando, desde 2008, pesquisas com o objetivo de identificar as propriedades físicas, químicas, biológicas e os aspectos de manejo de solo e de plantas frente a adoção de diferentes técnicas de conservação do solo e da água na região Sudoeste do Paraná.

Uma das atuações do grupo, liderado pelo professor Paulo César Conceição, consiste em avaliar o impacto ambiental do uso da técnica de terraceamento. Os terraços são estruturas construídas transversalmente ao sentido do maior declive do terreno, com um canal coletor e um dique para reter, infiltrar ou escoar a água da chuva e, assim, evitar o escoamento superficial e a erosão do solo.

“Nos últimos anos, muitos agricultores abandonaram a técnica do terraço e estão adotando práticas consideradas conservadoras, como o plantio direto, por exemplo. Podemos dizer que hoje, cerca de 20 a 30% deles ainda usam a técnica”, destaca o pesquisador.

Segundo Paulo Conceição, essa retirada dos terraços causa impactos econômicos e ambientais e, para mensurar essas perdas, uma área experimental do campus foi dividida em: dois hectares para uma lavoura com terraços e dois hectares sem nenhuma elevação para contenção de água.

As amostragens são realizadas em dias de chuva. Durante essa atividade, os estudantes que participam do grupo coletam amostras de água que escoa das parcelas experimentais e, posteriormente, as amostras são analisadas no Laboratório de Manejo e Conservação de Solos e Água localizado no Campus de Dois Vizinhos.

“Essa água que não infiltra lá nas lavouras vai parar dentro dos rios e ela vem não apenas como solos, mas também outros resíduos”, explica o professor.

Outro questionamento do grupo é se a fertilidade do solo influencia o escoamento superficial. Em áreas menores com distintos cultivos, os pesquisadores analisam a capacidade de infiltração de água no solo conforme o tipo de adubação realizada na lavoura.

O professor Carlos Alberto Casali, coordenador dessa área da pesquisa, cita que nas áreas em que são aplicados dejetos de aves ou dejetos líquidos de suíno e bovino, o escoamento superficial é menor. “Isso pode estar relacionado à produção de biomassa pelas plantas e à melhora da qualidade biológica e da matéria orgânica desses solos. Consequentemente, aumenta a infiltração, diminuindo o volume de água escoado na superfície”, afirma.

Na área do Campus, também foram delimitadas duas megaparcelas (estações para a pesquisa) para avaliar a erosão do solo. A iniciativa faz parte de outra linha de pesquisa da Rede Agropesquisa Paraná, a qual dividiu o Estado em seis mesorregiões levando em consideração as diferenças de clima, solos e culturas que predominam nas diferentes regiões.

Nesta pesquisa, o professor André Pellegrini coordena os estudos realizados na bacia hidrográfica e nas áreas (megaparcelas) com e sem terraços e a sua relação com o escoamento superficial e com as perdas de água e de solo ao longo dos ciclos das culturas. O monitoramento da chuva e do escoamento superficial é realizado ao longo de todo o ano. As amostragens para a quantificação do escoamento superficial e da concentração de sedimentos e das perdas de solo são realizadas ao longo de toda a chuva. As amostras são, posteriormente, analisadas no Laboratório de Manejo e Conservação de Solos e Água localizado no Campus..

Esse estudo permite quantificar o tamanho do escoamento superficial e das perdas de água e de solo das lavouras sob plantio direto com e sem o uso dos terraços e como ocorre a sua propagação para os cursos de água.

As chuvas ocorridas em outubro de 2022, por exemplo, refletem a importância do uso dos terraços nas lavouras para reduzir ou evitar as perdas de água e, por consequência, de solo por escoamento superficial. Oito chuvas geraram escoamento superficial com aumento da vazão no rio da bacia hidrográfica.

O evento de chuva de 10 e 11 de outubro do ano passado teve um volume acumulado de 208,87 mm, com intensidade média de 5,61 mm h-1 e intensidade máxima de 32,30 mm h-1 proporcionando uma vazão máxima no rio de 642,01 L s-1.

O tempo de retorno dessa chuva, ou seja, de quanto em quantos anos ela pode ocorrer, foi de 37 anos para Dois Vizinhos e de 62 anos para Francisco Beltrão.

Com isso, também houve escoamento superficial nas megaparcelas, em que a magnitude do escoamento superficial foi aproximadamente quatro vezes maior na megaparcela sem terraços (9,68 mm) do que na megaparcela com terraços (2,43 mm), mesmo que a vazão máxima tenha sido aproximadamente 2,8 vezes maior na megaparcela sem terraços (72 L s-1) do que na megaparcela com terraços (26 L s-1). Na área com terraços, a água ficou acumulada nos terraços e, posteriormente, infiltrou no solo, sendo o escoamento e a vazão provenientes da área de contribuição após o último terraço, enquanto toda a área da megaparcela sem terraços contribui para a vazão máxima e para o escoamento superficial.

Para os demais eventos ocorridos em outubro, o escoamento superficial foi oito vezes maior e a vazão máxima foi quatro vezes maior na megaparcela sem terraços em comparação à megaparcela com terraços. " Isso mostra a importância dessa prática mecânica conservacionista (o terraceamento) que muitas vezes tem sido retirada ou sofre pouca manutenção para seu pleno funcionamento", completa o pesquisador.

GPCS

O Grupo de Pesquisa em Ciência do Solo (GPCS) atua nas linhas de pesquisa de manejo e conservação do solo, biologia do solo, física do solo, geologia e paleontologia, popularização e educação em solos, química e fertilidade do solo. Os pesquisadores ofertam cursos, organizam congressos e seminários, além de projetos e ações em áreas da região Sudoeste.

Entre os dias 16 e 18 de maio, o grupo coordenará a Reunião Paranaense de Ciência do Solo, em Dois Vizinhos.