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Resultados de pesquisas sobre conservação do solo são publicados em livro
Dois Vizinhos
Uma publicação inédita reúne estudos de pesquisadores sobre a conservação do solo e da água nas atividades agropecuárias no Paraná. O livro traz informações sobre os resultados preliminares, mas, principalmente, o processo de implantação, metodologias e perspectivas futuras das pesquisas da Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada, Conservação de Solo e Água. Um dos editores da coleção “Manejo e Conservação de Solo e Água”, lançado na última terça-feira, dia 22, é o pesquisador do Campus Dois Vizinhos, André Pellegrini.
O doutor em Ciências do Solo foi o coordenador estadual da Rede de 2017 a 2022. Além desse estudo, mais três experimentos estão sendo conduzidos no Campus, que possui uma estação experimental de 195 hectares. Essas pesquisas da Rede são conduzidas pelos professores Paulo Cesar Conceição, Carlos Alberto Casali e Dinéia Tessaro. Os projetos contam com alunos de pós-doutorado, doutorado, mestrado, apoio técnico e graduação dos cursos de Ciências Agrárias (Agronomia, Engenharia Florestal e Zootecnia).
Para as pesquisas relacionadas à erosão, o professor realizou a implantação de duas megaparcelas (estações para a pesquisa) em uma área de lavoura de 4 hectares. Uma delas com terraço (barreiras feitas com o próprio solo, em nível) e outra sem. A Rede dividiu o Estado em seis mesorregiões levando em consideração as diferenças de clima, solos e culturas que predominam nas diferentes regiões. O Campus da UTFPR faz parte mesorregião Sudoeste. Nas demais mesorregiões, a mesma estrutura de estudo está sendo realizada para comparações e levantamento de dados da pesquisa e, em cada uma delas, há uma instituição de ensino e/ou pesquisa participando dos estudos.
O professor André Pellegrini explica que há muitos problemas no Plantio Direto realizado no Estado, principalmente pela compactação do solo, o que limita a infiltração da água das chuvas intensas, e leva ao processo de erosão. “A falta de rotação de culturas, pouca palha sobre o solo, e o não uso, ou o uso inadequado de terraços agrava o problema”, afirma.
Para coletar informações detalhadas que levam ao problema gerado pela erosão, em uma área de lavoura (megaparcelas) do Campus Dois Vizinhos, foi instalada uma calha para medir a vazão das enxurradas, e, assim, quantificar as perdas de solo, água e nutrientes. “Com isso foi possível mostrar as perdas aos agricultores de cada região de estudo e melhorar a conservação do solo do Paraná. Além disso, foi selecionada outra área maior (Bacia Hidrográfica- 64,0 ha) utilizada para entender o caminho que a água faz. Se sai pela superfície gera erosão; se infiltra, é reserva de água. Além da água, tem o solo que, ao sair da lavoura, pode chegar a represas de produção de energia elétrica, causando assoreamento ou eutrofização”, exemplifica.
Com os dados já levantados pelos pesquisadores, foram observadas as diferenças entre as áreas com e sem terraços. “Por exemplo, em uma chuva ocorrida em outubro de 2022, em Dois Vizinhos, de 207 milímetros, na área sem terraço houve escoamento de 72 litros por segundo, totalizando 172 m³ de volume de enxurrada, ou seja, 4,3% do volume da chuva. Já onde os terraços estão implantados, foi medido 26 litros por segundo, chagando a 44 m³ de volume de enxurrada. Isto significa que cada terraço armazenou este volume”, explica.
Segundo o professor, essas informações ajudarão na tomada de decisões de qual critério técnico será o mais adequado para determinar parâmetros como espaçamento e dimensionamento de terraços em diferentes intensidades de chuvas. Para isso, precisa de uma série longa de dados, ou seja, muitos anos de estudo.
A metodologia de implantação de megaparcelas foi trazida do Rio Grande do Sul. Lá o estudo foi conduzido por mais de 10 anos, gerando informações como, aumento de produtividade de 12% na soja e 10% no milho (safra 2016/17 e 2017/18). Tudo isso, reflexo de mais infiltração de água pelo uso de terraços, gerando maior umidade do solo.
De acordo com Pellegrini, os problemas com erosão hídrica vão além da propriedade dos agricultores e encarecem o tratamento de água nas estações e a geração de energia elétrica pelo assoreamento dos reservatórios. Ele explica que estes foram alguns dos motivos que desencadearam estes estudos vendo a importância da conservação dos so los para reduzir estes custos e minimizar os problemas.
“Essa é uma pesquisa de ponta no Brasil. Nos Estados Unidos existiram pesquisas semelhantes entre as décadas de 30 e 40 e até hoje eles usam os dados gerados neste período para dimensionar obras de terraceamento e de planejamento de escoamento urbano. Os solos no Brasil não são similares aos americanos e por isso precisamos deste investimento em pesquisa para planejarmos de maneira correta estas obras hidráulicas que são os terraços”, observa o pesquisador e um dos editores do livro.
Os dados levantados devem formar uma série histórica que permite o cálculo dos parâmetros hidrológicos a partir da modelagem dos dados por meio de modelos matemáticos próprios para o tratamento em diferentes regiões do estado, o que vai orientar a definição de critérios para dimensionamento de estruturas físicas de conservação do solo como terraços e canais escoadouros.
Rede
Os estudos tiveram início no final de 2017 através de um edital da Fundação Araucária e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) do Governo do Paraná, em parceria com o sistema Federação dos Agricultores do Paraná (FAEP) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-PR). O investimento é de R$ 12 milhões.
As mesorregiões são divididas em: Noroeste – Castelo Branco (coordenada pela Unicesumar); Noroeste – Cianorte (coordenada pela Unicesumar); Oeste – Toledo (coordenada pelo IDR-PR); Norte – Cambé (coordenada pelo IDR-PR); Campos Gerais – Ponta Grossa (coordenada pela UEPG); Central – Guarapuava (coordenada pela UEPG); e Sudoeste – Dois Vizinhos (coordenada pela UTFPR).
Na UTFPR, o professor aprovou pelo edital mais de R$ 1,7milhões para compra de equipamentos de monitoramento de erosão, estação meteorológica, adequação de instalações para a pesquisa, equipamentos de laboratório e realizar as análises. “Mas o que faz o projeto andar são os bolsistas que são responsáveis pelas coletas e estão abaixo de chuva coletando a enxurrada. Isso não é só trabalho, é investimento na qualificação dos estudantes. Quase 40% do valor do projeto foi para bolsas de pesquisa (01 pós-doutorado, 04 de apoio técnico e 03 de iniciação cientifica (IC). Estes estudantes, ao se formarem, estarão atuando na sociedade com uma visão totalmente diferente do tradicional e trabalhando pela conservação do solo e da água”, ressalta o pesquisador.
O Livro
O livro é composto por nove capítulos escritos por 48 autores. Ao todo são citados no livro “Manejo e Conservação de Solo e Água” 35 projetos desenvolvidos por 21 instituições participantes como universidades estaduais, federais e particulares, cooperativas, institutos de pesquisa públicos e privados. São 105 pesquisadores envolvidos, 21 bolsistas de pós-doutorado, 21 doutorandos, 56 mestrandos, 115 bolsas de iniciação científica e 61 bolsistas de apoio técnico. O trabalho também tem o apoio científico dos pesquisadores e consultores do projeto Gustavo Merten (University of Minesota) e Jean Gomes Minella (Universidade Federal de Santa Maria).
A primeira fase da pesquisa será concluída após sete anos de atividades em 2024, quando será publicado o segundo livro da rede com os resultados mais consolidados.