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Reitores se posicionam sobre o complexo portuário de Pontal do Paraná

Quadrilátero Acadêmico

publicado: 16/05/2018 13h39 última modificação: 16/05/2018 13h39
Reitores durante encontro com a governadora Cida Borghetti (Foto: Leonardo Bettinelli/UFPR)

Reitores durante encontro com a governadora Cida Borghetti (Foto: Leonardo Bettinelli/UFPR)

O reitor da UTFPR Luiz Alberto Pilatti participou na última segunda-feira (14), juntamente com os dirigentes da UFPR, PUC-PR e Universidade Positivo, da reunião de entrega do documento em que as quatro universidades se posicionam sobre a implementação do complexo industrial-portuário em Pontal do Paraná, no litoral do Estado. As quatro universidades signatárias do comunicado compõem o Quadrilátero Acadêmico de Pesquisa e Inovação, fórum voltado ao desenvolvimento de ações conjuntas e colaborativas.

No documento entregue à governadora do Paraná Cida Borghetti, as universidades se colocam à disposição para ajudar o Governo do Estado em relação ao tema e avaliam que o tamanho e a complexidade típica de um sistema estadual de portos, bem como a realidade atual dos portos de Paranaguá e de Antonina, recomendam que qualquer decisão a respeito, considerando os “pesados impactos socioambientais” para toda a região, somente seja tomada após estudos especializados compatíveis com a complexidade que o tema demanda.

“A ideia é discutir academicamente, com a competência que temos, a viabilidade da proposta. Nós temos uma preocupação muito grande com questão da sustentabilidade, que se põe por um lado; e, por outro, a sociedade exige cada vez mais posicionamentos em função de tudo estamos vivendo. Quando a comunidade acadêmica se reúne e propõe soluções para setor governamental, é ótimo caminho para se buscar uma solução que seja a melhor para toda a sociedade”, destacou Pilatti em entrevista à UFPR TV.

As universidades concluem o documento conclamando o Governo do Estado, a comunidade cien-tífica, o Ministério Público Estadual, o setor privado produtivo e todas as instâncias da sociedade para o aprofundamento da reflexão sobre o projeto, seus efeitos econômicos, sociais, turísticos e ambientais para elucidar dúvidas ainda existentes quanto ao seu impacto na Mata Atlântica e ao futuro de Pontal do Paraná e da Ilha do Mel, no Litoral do Estado.

Sobre o Projeto

O projeto apresentado pelo Governo do Estado prevê as seguintes obras: uma rodovia em pista dupla, um canal de drenagem, uma linha de transmissão de energia elétrica, um gasoduto e um ramal ferroviário, além das ligações da rede de água e esgoto. Seu objetivo é desafogar a PR-412 (especialmente de caminhões, mas também dos veículos, sobretudo em feriados e no verão) e, ainda, ligar a PR-407 à Ponta do Poço, no balneário de Pontal do Sul, onde estará localizada a Zona Especial Portuária. Para isso, uma faixa de 175 metros seria aberta, em meio à Floresta Atlântica, paralela à PR-412.

Confira a íntegra do comunicado:

COMUNICADO CONJUNTO DAS UNIVERSIDADES SOBRE A CRIAÇÃO DE COMPLEXO PORTUÁRIO EM PONTAL DO PARANÁ

As UNIVERSIDADES, que assinam este documento, protagonistas da formação intelectual, profissional e de cidadania do Estado do Paraná, fazem o presente posicionamento público dirigido ao Governo do Estado do Paraná a respeito das medidas para a viabilização de um complexo indus-trial-portuário na região de Pontal do Paraná, nos termos que seguem.

1. As medidas estão ligadas ao plano de implantar um porto privado que contaria, entre outros, com investimentos na construção de um sistema viário e rede elétrica (rodovia, ferrovia, canal de drenagem, torres de alta tensão, etc.) a serem executados com recursos do Tesouro Estadual. Há tempo é sabido que o crescimento da economia regional e o consequente desenvolvimento social do Estado do Paraná dependem da expansão da infraestrutura física em geral, com destaque para a necessidade de expansão da capacidade portuária do Estado, além da modernização tecnológica dos equipamentos e dos sistemas logísticos dos portos, tanto para lhes dar maior capacidade e eficiência operacional quanto para reduzir os custos de movimentação de mercadorias.

2. Todavia, o tamanho e a complexidade típica de um sistema estadual de portos e a realidade atual dos portos de Paranaguá e Antonina recomendam que qualquer decisão a respeito, sobretudo quando se percebem iminentes e pesados impactos sócio-ambientais para toda a região, somente seja tomada após estudos especializados compatíveis com a complexidade que o tema demanda. É necessário investigar com cuidado se as melhores opções para o enfrentamento dessas necessidades seriam a expansão e modernização dos por-tos atuais, com benefícios diretos ao complexo já existente, ou se a construção de outro porto, como é o caso em pauta do Porto de Pontal. Afinal, é de se observar que a construção de uma estrutura portuária fora daquelas já existentes demandará altos volumes de re-cursos para investimentos em toda infraestrutura de transporte, acesso, soluções ambientais e diversos investimentos que não seriam necessários na simples expansão e modernização das estruturas já existentes. Importante considerar ainda que o litoral do Paraná constitui-se em um dos menores em extensão do país e, por esse motivo, pode-se afirmar que a contribuição do Estado do Paraná com os seus dois portos existentes, introduz importantes dúvidas sobre a necessidade de outro complexo portuário.

3. Não se trata de ignorar o problema da modernização do sistema de portos no Estado do Paraná e nem a sua necessidade de expansão, mas de ter garantias de que dada a complexidade do projeto, sejam executados estudos aprofundados quanto à sua viabilidade técnica, ambiental, socioeconômica, com a participação do governo, empresariado, órgãos municipais, instituições de ensino e, naturalmente, com profundo envolvimento da sociedade civil organizada. No mundo moderno está consolidada a ideia de que o crescimento econômico sustentável e os investimentos necessários para obtê-lo não podem ocorrer deixando um rastro de prejuízos ambientais e sócio-econômicos, inclusive com possíveis deslocamentos de populações indígenas e caiçaras, além dos impactos sobre uma série de outras atividades correlatas, como turismo, comércio, cidades, patrimônio histórico e preservação da natureza.

4. Sabe-se que apesar da determinação da Justiça Federal no sentido de que fossem retomados os debates no âmbito do Conselho de Desenvolvimento territorial do Litoral Paranaense (COLIT) a respeito da construção de um novo porto em Pontal do Paraná, vários passos administrativos já foram dados, tais como o processo de licenciamento ambiental prévio e abertura do processo de licitação da faixa de infra-estrutura. E aqui reside um motivo de preocupação da parte das Universidades que firmam este documento. Em princípio os estudos, as análises, os impactos ambientais e suas medidas compensatórias e mitigadoras, assim como informações mais precisas dos empreendedores e responsáveis pela operação do negócio, condicionantes do processo de licenciamento, entre outros aspectos, não estão suficientemente estudados, debatidos e divulgados com a devida transparência.

5. Apenas como exemplos, sabe-se que está em fase de elaboração (e portanto ainda não concluído) o “Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral do Paraná”, encomendado pelo próprio Estado do Paraná, que recebe significativo aporte de recursos do Banco Mundial e que poderá fornecer importantes recomendações a todo esse processo. Igualmente seria prudente a retomada da agenda de ava-liações desse projeto de modo atrelada ao GERCO (Gerenciamento Estadual Costeiro), a fim de que houvesse uma profunda capilarização desse debate com os municípios e com a sociedade, tal como previsto pela Lei Federal 7.661/1998 e Lei Estadual 13.164/2001. Também seria altamente recomendável a elaboração de um estudo de impactos sinérgicos e cumulativos que leve em conta a área de influência direta da instalação desse porto, como também a Ilha do Mel, um tesouro natural e turístico do litoral do Paraná que certamente será impactado pelo conjunto dos empreendimentos previstos.

6. Sendo comprometidas com o desenvolvimento sustentável do nosso Estado, e em particular da nossa região litorânea, mas igualmente comprometidas com a reflexão, a pesquisa e com as mediações necessárias que devem ocorrer em um processo complexo como o da instalação de um novo porto em Pontal do Paraná, as Universidades abaixo assinadas colocam-se à disposição para auxiliar nesse pro-cesso de avaliação e decisão e conclamam o governo do Estado, a comunidade científica, o Ministério Público Estadual, o setor privado produtivo e todas as instâncias da sociedade em geral para o aprofundamento da reflexão sobre o projeto, seus efeitos econômicos, sociais, turísticos e ambientais, de forma a elucidar dúvidas ainda existentes quanto ao seu impacto na mata atlântica e ao futuro de Pontal do Paraná e da Ilha do Mel.

Curitiba/PR, 5 de março de 2018

Universidade Federal do Paraná                                     Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Pontifícia Universidade Católica do Paraná                   Universidade Positivo

 

*Com informações da Superintendência de Comunicação da UFPR