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Projeto Graffiti
Quem conhece a UTFPR de Londrina, já deve ter observado um colorido especial existente em dois pontos do câmpus: no espaço de convivência e no prédio da biblioteca. São murais cheios de significados, frutos do Projeto Graffiti, Sociedade e Universidade, desenvolvido a partir do segundo semestre de 2016, pelo assistente social Weslei Trevizan Amâncio, que simpatiza muito com a arte, e pelo aluno do curso de Engenharia de Produção, Matheus Santos Dias, que é grafiteiro. Eles são, respectivamente, coordenador e vice-coordenador do projeto, e para realizá-lo, se basearam no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UTFPR que, entre suas diversas metas no eixo “Desenvolvimento institucional”, apresenta o compromisso de fomentar e fortalecer permanentemente atividades culturais, artísticas e esportivas no âmbito da universidade. “Considerando esse quadro, percebemos a existência de um espaço institucional valoroso para trabalhar e desenvolver a arte do grafite, expressão de uma cultura social com forte potencial de integração das mais distintas comunidades, e em especial a do nosso câmpus, e procuramos colocar isso em prática”, explicam os coordenadores.
No espaço de convivência, a pintura foi feita pelos renomados artistas paulistas Cena 7 (Michel) e Jimmy (Rafael), que trabalharam em conjunto com os alunos da UTFPR. Weslei conta que “nessa obra, se buscou aliar a expressão artística ao espírito do conhecimento. Cena 7, num estilo mais surreal, utilizou um androide, e Jimmy, pendendo mais para o expressionismo, retratou um homem diante de um livro que, à medida em que vai aprendendo mais sobre a vida e tudo o que a envolve, vai “se despindo da irracionalidade (representada pela figura de um animal)”. O coordenador comenta que “na verdade, no grafite, o artista não dá a ideia pronta e acabada sobre suas obras. Essa “conclusão” vai do olhar e da interpretação de cada um que as observa”.
No prédio da biblioteca, o mural foi elaborado num segundo momento do projeto, em 2017, pelo artista londrinense Matheus, mais conhecido como “Dedo Sujo”, justamente por sujar os dedos para fazer suas pinturas. Nessa obra, como explica Weslei, a figura central é um monstrinho, em um ambiente pantanoso; um grafite mais urbano, mais raiz, cuja contestação também está presente de forma relativamente oculta - dependendo do ângulo em que se observa - através da frase: “Para quem serve seu conhecimento?” O coordenador do projeto salienta que o grafite gera três sensações no público: a dúvida, a aceitação ou a rejeição, e que no caso das obras feitas na UTFPR, a aceitação foi grande; a dúvida, razoável; e rejeição, quase não houve.
Agora, por ocasião das comemorações dos 110 anos da instituição, uma das atividades do Projeto, acordada com a direção-geral, é a produção de mais dois painéis no câmpus da UTFPR de Londrina: um na face oeste do bloco da biblioteca (ao lado do grafite já existente) e o outro, na face oeste do bloco E (de frente para pátio central). As obras serão executadas no dia 25 de setembro pelos artistas AGN (Angelo), + Amor (Rafael), Tatu (Thaís) e Matheus Santos Dias (vice-coordenador da ação). Aliás, Matheus Santos Dias desenvolve vários projetos sociais nessa área, levando a arte a regiões vulneráveis da cidade como uma alternativa para a gurizada extravasar, e os resultados têm sido excelentes.
Além da programação do dia 25 no câmpus, também estão previstas a realização de oficinas com a participação das comunidades interna e externa, nos dias 26 e 27 de setembro. O coordenador ressalta que “os interessados não precisam ter habilidade para desenhar, pois isso pode ser desenvolvido”. As inscrições para essas oficinas iniciaram no dia 02 de setembro, e prosseguem até o dia 24, véspera do início das atividades programadas. No total, são 35 vagas; e todos os participantes receberão certificados.
Com essas ações, os responsáveis pelo projeto esperam contribuir para a construção de um espaço de sociabilidade na comunidade acadêmica, valorizado mediante o emprego da arte, cultura, diversidade, diálogo, tolerância, criatividade e a capacidade de se expressar, encontrados em essência nos recursos teóricos e práticos do grafite.
O painel artístico e as oficinas deverão finalizar o Projeto de Grafite na instituição, mas as ações realizadas certamente ficarão marcadas na mente de quem buscou compreender ou aprender essa arte, e no cotidiano de todos os que passam pelo câmpus da UTFPR Londrina.
História da Pichação e do Grafite ao longo do Tempo
Desde os primórdios da civilização, a humanidade sempre procurou se comunicar através da escrita e de desenhos. Artes rupestres e hieróglifos feitos em rochas e cavernas, e descobertos em épocas mais recentes, datam de muitos séculos atrás, deixando claro que isso já ocorria na pré-história. Certamente, a maioria dos símbolos era apenas uma forma utilizada para a simples comunicação dos povos antigos.
A comunicação evoluiu muito, mas essa forma de expressar ideias e pensamentos permanece até os dias atuais, através de símbolos, frases e figuras pintadas nos mais diversos locais ao redor do mundo. São intervenções feitas principalmente em edificações, com o objetivo passar um pensamento com ensejo de crítica, e que ficaram conhecidas como pichação ou grafite. O primeiro registro de pichação como arte no Brasil foi o emblemático “Abaixo a Ditadura”, em 1968. Já o termo grafite ou graffiti deriva do italiano graffiare, que significa algo como riscar. Esta palavra, corresponde ao plural de grafitto e designa marca ou inscrição feita num muro ou parede. Esse tipo de manifestação artística surgiu o na década de 1970, nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova Iorque. “O grafite e a pichação estão para o texto assim como o grito está para a voz", definiu o poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989), que usava o spray como faceta da poesia marginal.
Esta forma de manifestar pensamentos e ideias, ainda gera muitas dúvidas e confusão entre os dois estilos de expressões gráficas, já que ambos têm realmente vários pontos em comum, e particularidades que os diferenciam. A pichação é uma forma de manifestação sempre sem permissão, em muros, paredes, ruas ou monumentos; uma contravenção que pode até resultar em cadeia, caso os autores sejam apanhados em flagrante. Usando tinta em spray aerossol, estêncil, pincel ou mesmo rolo de tinta, geralmente preta (que é mais barata), os pichadores imprimem frases e símbolos para expressar um pensamento, com fundo crítico, sobre algo para o qual desejam chamar a atenção. De um modo geral, a pichação é vista como algo sujo e feio esteticamente.
O grafite também é feito com tintas spray, rolos ou pincéis em paredes e muros, com o objetivo de expor pensamentos e ideias, e possui – igualmente – o lado da contravenção, já que só pode ser assim considerado caso não haja permissão para que seja executado. Existindo a permissão, ele passa a ser um mural artístico. Mesmo assim, a expressão “grafite” é amplamente utilizada para designar essa arte mais refinada, cheia de cores e significados intrigantes e instigantes, feitas com o devido aval dos proprietários ou responsáveis, em locais públicos ou privados. Tanto a pichação, quanto o grafite têm presença forte dentro da cultura hip hop, e antigamente dividiam o status de expressão não autorizada. Apesar de ainda marginalizado, o grafite é uma expressão artística que vem ganhando espaço, podendo ser apreciado até em galerias de arte. São obras que têm o poder de dar vida a lugares inóspitos ou sem graça, através de cores e imagens que levam à reflexão das pessoas.
Na verdade, existe uma linha tênue que separa o grafite da pichação, e de forma bastante resumida, pode-se dizer que a principal diferença entre os dois estilos é que o grafite é baseado em figuras; e a pichação, em letras... E ainda que pichação é tida como vandalismo, e o grafite, como arte. Mas isso também é controverso, e a discussão poderia ir ainda mais longe que os próprios tipos de manifestação.