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Fala Mulher
Apenas 35% dos estudantes do mundo nas áreas de tecnologia, engenharias e matemática são mulheres, de acordo com dados da UNESCO*. Neste Dia Internacional da Mulher, a única universidade tecnológica do Brasil não poderia deixar de destacar o trabalho realizado por mulheres na instituição, especialmente no câmpus Ponta Grossa.
A disparidade ainda é grande, quando falamos em dados numéricos. Quer ver?
- Dos 3127 estudantes do ensino superior que iniciaram o ano letivo 2020, apenas 951 são mulheres, cerca de um terço - ou seja, menos do que a média mundial;
- Focando exclusivamente nos alunos dos cursos de tecnologia, apenas 10,7% são mulheres na unidade de Ponta Grossa.
Em dados mais específicos, dentre os cursos superiores, aquele que apresenta maior disparidade é o de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, no qual apenas 9% dos estudantes são mulheres. Atrás ainda de cursos como Ciência da Computação (11%) e Engenharia Mecânica (15%).
Já na pós-graduação, os números são diferentes, pois dos 430 estudantes no câmpus, um total de 50,5% são mulheres. Uma pequena maioria, mas que já demonstra o potencial e esforço feminino em busca de mais espaço e conhecimento, também para ocupar uma parcela maior no mercado de trabalho.
Aos poucos as barreiras estão sendo quebradas, com expoentes femininos se destacando e assumindo papéis de grande importância. Assim como na sociedade, a UTFPR PG possui bons exemplos de mulheres com histórias de conquistas, respeito e representatividade no cenário acadêmico e institucional. Veja algumas delas abaixo.
Mulheres líderes
Em um universo que aparenta ser formado pela maioria de homens, a Diretoria de Planejamento e Administração (Dirplad) da UTFPR PG é chefiada por uma mulher. São 270 servidores e apenas 36% são mulheres; dentre as 60 chefias em Ponta Grossa, 21 são mulheres. Uma delas é a servidora Joslaine Iansen, que comanda a Dirplad e tentou traduzir um pouco dessa experiência de representar as mulheres no quadro diretivo do câmpus. Joslaine acredita que “as mulheres são tão competentes quanto os homens e a discriminação de gêneros vem perdendo espaço ao longo do tempo. Já tivemos períodos em que muitas diretorias eram ocupadas por mulheres e trouxeram ótimos resultados para a instituição.”
Não só as diretorias profissionais eram mais direcionadas aos homens, mas também as estudantis, o que vem mudando ao longo do tempo. Hoje, por exemplo, dos seis Centros Acadêmicos do câmpus, quatro deles têm lideranças femininas. Este espaço conquistado se mostra ainda no Diretório Central dos Estudantes, com a presidência da acadêmica Bruna Nizer. “Ser mulher aqui é bem mais desafiador do que parece. Apesar das novas gerações estarem um pouco mais cientes da importância da mulher na sociedade, nós precisamos estar sempre nos provando no campo universitário, provando que somos tão boas quantos os homens, e inteligentes o suficiente para estar estudando em uma instituição como a UTFPR. Eu não fui a primeira presidente mulher no DCE, mas ainda sinto falta dessa representatividade, então eu entrei com o objetivo de dar mais voz às alunas e incentivar a participação delas no movimento estudantil”, relata a representante discente do câmpus, recém eleita para o mandato 2020.
Essa voz foi também elevada nos espaços extra-classe, como relata a antiga presidente (2014-2015) da Bateria Carniceiros, Marjorie Batistela. A ritmista conta que ajudou a fundar a bateria, depois se tornou a única mulher entre aqueles que tocavam surdo e nunca sofreu preconceito. Porém, no início, ainda haviam muitos cantos machistas, o que aos poucos foi recebendo tratamento especial com um trabalho de integração de gênero e aceitação de todos. Essa ação foi influenciada também pela participação da então presidente no início da fundação do Coletivo Marie Curie, ampliando a visão e abrindo novos horizontes de diálogo.
Mulheres no coletivo
A universidade acredita também no poder dos coletivos, em falar e construir o pensamento juntos, por isso o Coletivo Marie Curie foi criado no ano de 2016 e é coordenado atualmente pela professora Nadia Kovaleski. Como parte do projeto de extensão “Gênero, Ciência e Tecnologia: a universidade tecnológica em debates”, este coletivo já tratou de diversos assuntos, por exemplo: a indústria e as engenheiras; as identidades trans; violências e sexismo no cotidiano universitário; LGBTfobia e a educação; epistemologia feminista; relacionamentos abusivos etc. Para o mês da mulher, o coletivo está com a seguinte programação:
- 10/03 - 18h - Palestra “Meu corpo não é público", no miniauditório do bloco L
- 11/03 -12h - Palestra “Maternidade no sistema carcerário", miniauditório do bloco C
- 13/03 - 12h - Palestra “Mulheres na Ciência", no miniauditório do bloco L
- 18/03 - 12h - Oficina de Lambe produção literária feminina, miniauditório do bloco L
Mulheres na ciência
Mesmo com uma representação numérica pequena no câmpus Ponta Grossa, professoras e alunas da instituição tem conquistado seu reconhecimento dia a dia, com trabalhos sendo premiados e aplicados nacional e internacionalmente. Este é o caso da professora Regina Negri Pagani, atualmente docente no curso de Engenharia de Produção, Titular do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.
Faltando dois anos para a professora Regina terminar seu doutorado, parou todo o trabalho para desenvolver uma ferramenta capaz de selecionar artigos para o portfólio de forma rápida e com relevância científica. Assim surgiu a Methodi Ordinatio, baseada no Modelo de Cochrane. O diferencial da Methodi é a agilidade na seleção de um portfólio, utilizando três fatores: o fator de impacto do periódico; a atualidade da pesquisa; e o reconhecimento da comunidade científica. Entre a escrita da patente, submissão e aceite do artigo em periódico com elevado fator de impacto foram menos de seis meses. Embora seja uma metodologia nova, já se consolidou internacionalmente como uma ferramenta de fácil aplicação, com resultados comprovados.
Destacando-se entre as poucas figuras femininas nos cursos em que lecionam, as mulheres da UTFPR Ponta Grossa demonstram seu valor através do reconhecimento do seu trabalho, conquistando espaços cada vez maiores no mundo acadêmico. Outra história de sucesso é a da professora Sani Rutz, que iniciou sua carreira acadêmica na área de matemática, com doutorado em Ciências dos Materiais. A docente destaca que apesar de a área ser “dominada” por homens, nunca se importou, apenas fez. Ela acredita que gênero não é critério determinante, mas sim a competência e persistência das pessoas.
Sani recebeu o prêmio de melhor tese de doutorado na área de ensino no Brasil, na categoria orientação. Concorreu e foi contemplada em editais internacionais, com projeto financiado pela Teachers College, Universidade de Columbia, e pela Fundação Lemann. A docente ainda destaca a importância da internacionalização do conhecimento, relatando sobre viagens ao exterior onde encontra mesas de discussão e debates em locais repletos da presença apenas masculina. Este foi o caso de sua última viagem à Bolívia. “Acredito que hoje conquistamos um espaço maior na sociedade, comparado a tempos atrás. Devemos ser insistentes e acreditarmos mais em nós. Buscar sempre o melhor, ainda que cada passo seja acompanhado de algum receio. Na verdade, devemos ser fortes, determinadas e realizadas!”, completa a professora Sani, segura do seu papel e representatividade feminina dentro da universidade.
Extrapolando os muros da universidade, as mulheres da UTFPR tem ganhado visibilidade em diversos locais, como a doutoranda Elaine Machado que, recentemente, teve uma peça teatral baseada em seu trabalho (veja aqui). Desde o seu ingresso na pós-graduação estuda a naturalista Maria Sibylla Merian, uma mulher que em pleno século XVII, como naturalista, retratou a metamorfose dos insetos e antecedeu Charles Darwin em uma expedição científica.
Os trabalhos da naturalista alemã tem inspirado Elaine e que fez, como mulher, incentivar “minhas colegas professoras e alunas adolescentes a seguir esse caminho maravilhoso da pesquisa científica. A prática científica abriu muitas portas para mim. Participei de eventos e atividades que jamais teria participado se não fosse pesquisadora. Sinto que na escola básica, as meninas precisam conhecer como essas mulheres praticavam e praticam a atividade científica e quão importante ela é em nossa sociedade”, explica a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia da UTFPR Ponta Grossa.
Estes são apenas alguns exemplos das mais de mil mulheres que fazem parte do câmpus Ponta Grossa. São centenas de histórias de sucesso e a instituição tem orgulho de compartilhar com sua comunidade. Que este dia 08 de março seja de comemoração e orgulho por todas as conquistas até hoje e também de incentivo por igualdade e equidade de gênero. Parabéns mulheres.