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Graduação em foco

Entrevista ASCOM

Durante as Semanas Acadêmicas Integradas, aproveitando a presença do Pró-Reitor de Graduação e Educação Profissional realizamos uma entrevista sobre o ensino superior no país e o lugar da UTFPR nesse cenário.
publicado: 09/10/2023 16h42 última modificação: 26/10/2023 13h04
Exibir carrossel de imagens PROGRAD compartilha a existência de novo projeto para a graduação.

PROGRAD compartilha a existência de novo projeto para a graduação.

O Pró-Reitor de Graduação e Educação Profissional (PROGRAD), Jean-Marc Stéphane Lafay, esteve em visita ao Campus Ponta Grossa, Na quarta-feira (4). Durante a manhã ele participou de uma reunião com a Diretoria de Graduação e Educação Profissional (DIRGRAD-PG), Chefes de Departamento e Coordenadores de Curso. Dando sequência a sua agenda, à tarde, participou da IV Semana Acadêmica Integrada (IV SAI).

Com o tema Aprendizagem ao longo da vida,o Professor Lafay o trouxe de forma leve conceitos como tipos de inteligência, soft skills e flexibilidade neural. A palestra fez parte da programação da Semana Acadêmica de Mecânica (SAMEC).

Aproveitando a presença do Pró-Reitor de Graduação a Assessoria de Comunicação (ASCOM-PG) conduziu uma entrevista que fala sobre o ensino superior no país e qual o lugar da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) nesse cenário. Foram abordados temas relevantes como a necessidade de renovação na universidade e a volta do vestibular.

De forma franca e direta Professor Lafay pontuou alguns problemas e dificuldades, mas compartilhou a existência de um projeto que pretende vencer esses desafios, através do diálogo e de uma maior compreensão quanto aos questionamentos que vem da sociedade, principalmente, do mundo do trabalho. Acompanhe agora a integra dessa entrevista. 

ASCOM – Quanto a reunião que você participou pela manhã com a DIRGRAD, Chefes de Departamento e Coordenadores, qual foi o objetivo desse encontro? 

Lafay – Estamos aproveitando esse momento de inscrições abertas para o vestibular e, dentro do escopo de atuação da PROGRAD, fazendo um recorte de política de atratividade dos cursos superiores oferecidos pela universidade. E dentro dessa política de atratividade, explicar para os coordenadores, chefes de departamento e para a própria diretoria, como a PROGRAD encara o vestibular dentro dessa política, (...) que visa desde o início melhorar a identidade e a marca da universidade. Por questões históricas a gente nunca teve muita oportunidade de fazer isso. A UTFPR transformou-se em universidade em 2005, em 2008 tivemos o REUNI e, em 2010, aderimos ao SiSU e paramos de fazer o que estamos retomando agora, (...)que está ligado ao fortalecimento da marca. A segunda parte, que é a que mais faz sentido para a PROGRAD, é o contato, num continuo que é a educação, com quem antecede o ensino superior, ou seja, o ensino médio, reaproximar, trazer eles até a universidade para que se permitam sonhar com a construção do futuro deles. Essa é a parte que realmente nos interessa e a terceira parte, que obviamente a gente aprendeu pela dor, é a percepção que a procura estava diminuindo. O que todo mundo está colocando – “todo mundo” é um exagero da minha parte – é que o vestibular veio para resolver o problema da ocupação das vagas, como consequência pode ser que atinjamos esse objetivo, mas o desinteresse pelo ensino superior transcende o formato de processo de entrada (...). Eu fiz questão de contextualizar isso e fiz uma apresentação de dados que são do conhecimento de todos, mas eu compilei de uma forma que venho fazendo sistematicamente, validei isso com Pró-reitores da Regional Sul, com 20 Pró-Reitores do sul do país – eu atuo como coordenador regional do Colégio de Pró-Reitores da Graduação do Sistema Federal (COGRAD), órgão vinculado a ANDIFES – e eu me senti na obrigação de trazer essas informações para a gente refletir juntos, sem cobrança, não há que se falar em culpa, mas é uma situação que está angustiando a todos nós, de vermos um trabalho muito grande que a gente faz, mas está despertando menos interesse que no passado, por quê? O que está acontecendo? Tentando responder essas perguntas.

"A proposta é que a gente se permita pensar fora da caixa numa relação de 120 cursos tradicionais, para um. Ofertar um curso para esse não público, para que possamos verificar se realmente queremos atrair esse público, se a gente tem condições e que ferramentais a precisamos desenvolver." 
Jean-Marc Stéphane Lafay - Pró-Reitor de Graduação e Educação Profissional

ASCOM – Essa seria nossa próxima pergunta, até porque a mídia vem mostrando, que o desinteresse pelo ensino superior é uma realidade de muitas universidades. Quais seriam esses gatilhos, o que está levando o jovem perder o interesse em fazer uma graduação?

Lafay– É uma realidade de todas as universidades. Temos que perceber três novas premissas, que eu gostaria que na UTFPR nós as tivéssemos na hora de planejar as nossas ações. Primeiro é o conceito do não aluno, porque as universidades estão focando no perfil de aluno. Quem é esse aluno? É o estudante de 18 a 24 anos, que tem disponibilidade de tempo, que tem família que pode manter ele para estudar, esse era o padrão antigo (...). Esse aluno está diminuindo, pela composição etária da nossa população, (...) pela necessidade dele trabalhar (...). Ainda existe o público para o qual nós estruturamos todas as nossas ações? Ainda existe, mas ele está diminuindo. Agora a gente precisa olhar para o não aluno. Quem é o não aluno? (...) são pessoas que trabalham, não é mais de 18 a 24 anos, é até os 50 anos, de uma forma bem distribuída. É o aluno que está se inscrevendo em cursos de Educação a distância (EAD). É o aluno que não quer mais um modelo desalinhado do mundo do trabalho, para realmente ter ferramentas para a disputa no mundo do trabalho, que o coloque numa melhoria de renda, numa melhoria de emprego. Mas a universidade – de modo geral – está teorizando demais, falhando na interpretação desse não aluno, que nesse cenário não nos quer. Ele nem cogita a possibilidade de ser nosso aluno, por isso, eu já cunhei o termo não aluno. A segunda premissa é que a gente tem que ofertar uma abordagem educacional, que se ajuste ao perfil desse não aluno. Não adianta a universidade fazer propaganda e esse não aluno entrar, porque os cursos, do jeito que estão não são aderentes ao estilo de vida desse público. Nós precisamos ajustar uma nova proposta ao novo perfil (...), modalidade com mais carga EaD, ofertar turnos diferenciados, como noite e final de semana, uma carga horária que essa pessoa tem disponibilidade. (...) Existe hoje uma realidade que tem de ser levada em consideração, do contrário, para o não aluno fica insustentável. E essas pessoas o que elas fazem? Vão até certo momento e depois dizem: isso não é para mim. E a terceira premissa é que essa formação tem que dialogar com o mundo do trabalho, porque a universidade tem como função mais nobre, formar um cidadão crítico, mas esse mesmo cidadão, considerando suas prioridades segundo a pirâmide de Maslow, precisa melhorar a renda e emprego. Todo resto é legal, mas não é o que ele precisa neste momento.

ASCOM - Falamos das dificuldades, mas quais são as soluções que a universidade está trabalhando para enfrentar essa situação nova?

Lafay– Hoje, a UTFPR oferta 120 cursos, nesse vestibular foram 114, mas temos rodando junto ao Ministério da Educação (MEC) 120 cursos de graduação. A proposta é que a gente se permita pensar fora da caixa numa relação de 120 cursos tradicionais, para um. Ofertar um curso para esse não público, para que possamos verificar se realmente queremos atrair esse público, se a gente tem condições e que ferramentais a precisamos desenvolver. E para trabalhar os conceitos envolvidos no termo não aluno, temos que envolver a parte da comunidade que já apresenta uma insatisfação positiva, ou seja, já estão convencidos que não dá para ficar apenas nesse modelo tradicional e que precisamos ampliar nosso portfólio de abordagens. Essa é a proposta que vim trazer (...), pra reunir uma equipe maior e começar a conceber um curso dessa natureza, numa escala piloto, de inovação, mas com todo cuidado, para não passar um recado errado para nossa comunidade de que agora os 120 cursos têm que mudar, porque não é esse o recado. Temos lugar para os 120 cursos, mas precisamos iniciar uma conversa com esse não público e ajustar o melhor modelo, a melhor construção para ter mais aderência.

ASCOM - A POGRAD já tem um escopo de como seria esse novo curso, essa nova proposta?

Lafay – Ele existe dentro da minha cabeça, mas o que eu aprendi nesses três anos de gestão pública, a frente da Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional, assim como tem as regras de ouro do corretor de imóveis, que existe o segredo da culinária francesa, existe também o da gestão pública. Na corretagem existem três segredos, ou seja, três regras de ouro. Localização, localização e localização. Na culinária francesa, os três ingredientes secretos são manteiga, manteiga, manteiga. E na gestão pública – ao menos onde estou à frente – diálogo, diálogo e diálogo. Se eu disser que o curso é isso, eu já bloqueei a possibilidade de diálogo (...). Claro que eu tenho uma ideia pronta, eu tenho background, tenho parceiros do Brasil, que já atuam. Como exemplo, eu conheci a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), onde o “V” é de virtual, ou seja, ela só tem aluno na modalidade EaD. Ela tem 80 mil estudantes (...). Tem um modelo, já tem 12 anos de atuação, tem uma expertise e nós estamos trabalhando juntos. O EaD faz parte desse combo, mas é a única coisa que posso dizer nesse momento, porquê? Por que o não aluno já mostrou que acredita que o EaD dá essa flexibilidade, que ele precisa. Agora vai ser o mesmo EaD que as outras universidades estão fazendo? Não, porque nós vamos construir o nosso. Uma coisa curiosa que a gente pode analisar é que o ensino superior no Brasil está em declínio, que as pessoas estão deixando de procurar por uma graduação, mas isso não é verdade. As matriculas no ensino superior no país estão crescendo numa taxa 4 a 5% ao ano, no entanto, o ensino presencial está tendo uma queda de 6 a 7% ao ano. (...) Em 2021, tivemos uma inversão na oferta de modalidade presencial e EAD, em que o EAD passou a somar 51% das matrículas do ensino superior brasileiro. Em 2023, estamos em 60%. É um recado forte que o não aluno está passando.

"Em 2021, tivemos uma inversão na oferta de modalidade presencial e EAD, em que o EAD passou a somar 51% das matrículas do ensino superior brasileiro. Em 2023, estamos em 60%. É um recado forte que o não aluno está passando." 
Jean-Marc Stéphane Lafay - Pró-Reitor de Graduação e Educação Profissional

ASCOM - Insistindo um pouquinho nesse tema, o projeto de extensão chamado Metodologia de Ensino Inovador da UTFPR (MEI-U), que é uma modalidade que a gente tem no campus Ponta Grossa e, atualmente, funciona em rede. Esse modelo também pode ser uma aposta para atrair esse não aluno?

Lafay – Certamente. Mas, nesse caso, não está mais falando de flexibilidade. Estamos falando de neuroeducação, neurociência. O MEI-U traz algo que é fantástico, que o estudante enxerga pertinência e significado naquilo que está vendo. E a neuroeducação mostram que nesse formato o estudante aprende e retém o aprendizado por muito mais tempo, a pessoa de fato aprende. Existe uma tendência muito forte que defende um modelo de um curso com eixo central em um projeto, não mais disciplinas que exponham conteúdo, mas disciplinas ou módulos que se proponham a resolver problemas, a exemplo, do que é o MEI-U. Hoje, esse modelo tem uma participação pequena nas grades dos cursos, às vezes, somente como disciplina optativa. O que eu acredito e o que eu defenderia (...), ao invés de ter uma participação tímida, que ele fosse a alma do curso. Como se disséssemos que a metodologia do MEI-U será a estrutura do curso todo.

ASCOM – Quanto à curricularização da extensão, também podemos dizer que existem vários recados que vem da sociedade para o ensino superior. Por exemplo, a necessidade de aproximação, como o MEI-U faz com o mercado, a extensão deve fazer com a comunidade. É esse diálogo que está sendo solicitado para as instituições que trabalham com ensino superior no Brasil?

Lafay – Sim. Isso faz parte da terceira premissa. Não sei se cheguei a explorar bem essa questão, mas é o alinhamento do que se aprende com o que o mercado ou o mundo do trabalho quer ou mundo do empreendimento quer. Eu fico surpreso muitas vezes em ver noticias sobre o aumento da taxa do desemprego, paralelo a oferta de vagas não preenchidas. Como assim tem gente desempregada, mas tem vaga não preenchida? O que acontece é que a qualificação exigida não é encontrada nesse rol de pessoas que está desempregada (...). Nós não estamos conseguindo fazer uma formação que atenda de formas imediatas e futuras, porque há previsões, mas a gente se distanciou. Nós éramos muito bons na época do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), nessa aproximação com o mundo do trabalho. Acredito que tenham dois aspectos importantes a destacar. O primeiro aspecto é que estávamos muito orientados à indústria, que por muito tempo foi a mola propulsora da economia, e mesmo ainda tendo uma participação forte na economia, ela não está mais sozinha, tem comercio, tem serviço, tem o agronegócio, tem o próprio empreendimento de statups e de certa forma nas nossas formações (...) repete-se um modelo que aprendemos bem, mas como estreitar com o mundo do trabalho? Eu concordo plenamente que a curricularização da extensão nos incomoda, porque nos tira da nossa zona de conforto, e nos força a dialogar com o setor produtivo para definir onde atuar e quais desafios eu posso começar a resolver. Isso vai envolver a parte intelectual, vai demandar recursos, que também é um problema. Mas  temos estudos que mostram dados importantes, por exemplo, o Fórum Mundial Econômico, tem um estudo para tomada de decisão baseada em dados, indicando que será uma profissão do futuro para os próximos 20 anos. Se eu fosse fazer uma sugestão de novo curso, seria nessa área. Mas isso é data sciense?Não quero dar nomes, quero só trazer o que foi dito no FÓRUM, porque existem várias possibilidades, a estatística é uma possibilidade, mas dentro de algo que está aquecido no momento. Essas leituras são importantes (...) e para isso nós temos a Federação das Indústrias, as associações comerciais, temos uma série de representações, que conseguem ter uma leitura das demandas que teremos imediatamente ou no futuro próximo.

ASCOM  - Em setembro Ponta Grossa viveu o mês da Inovação em comemoração aos 200 anos da cidade, do qual  a UTFPR-PG participou ativamente, pela sua vocação, mas também para marcar as comemorações dos 30 anos do campus. Nessa nova proposta qual é o lugar da inovação e do empreendedorismo?

Lafay– É uma das coisas que tenho debatido bastante, porque quando falamos em inovação, tendemos a imaginar isso posteriormente ao termino da graduação. Eu proponho uma disrupção dentro do processo de aprendizagem. Estou propondo que a universidade se permita, numa relação 120 para um, inovar pensando fora da caixa. Largar aquelas coisas que temos confiança em fazer, embora não reconheça tanto o resultado, mas é tradicional sempre foi feito assim. Acredito que tem muita conexão com essa proposta que a gente traz (...), mas ela tem que ser dialogada, tem que ser apresentada de uma forma provocativa e buscar quem gostaria e se sente chamado a atuar nesse novo formato. Tem inovação nesse processo e o empreender estaria no que estamos fazendo aqui, mesmo dentro do setor público, inserindo em todo processo e não somente depois da graduação.

ASCOM  - Falando um pouco de vestibular, claro aproveitando a sua presença no nosso campus. Ele ainda é uma novidade, estamos no segundo processo, depois de 13 anos apenas com o Sistema Único de Seleção (SISU), que ainda tem o seu valor e seu lugar como forma de ingresso. Mas já é possível fazer um balanço prévio do que tem sido o vestibular? Como a PROGRAD avalia essa escolha de retomar o vestibular?

Lafay– Tem prós e contras. Os prós é que a gente de fato foi ao encontro do nosso público, das nossas comunidades, acolhemos as nossas comunidades de volta, poderíamos fazer isso com o SiSU? É claro, mas passaram 13 anos e não fizemos (...). O vestibular dá muito trabalho. É mais caro que o SiSU, isso é um dos contras. Ele é de uma responsabilidade muito grande. A prova feita no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é uma prova muito bem feita, estruturada, conta com uma equipe gigantesca, tem recursos, tem tecnologia. De forma alguma estamos competindo com o ENEM, que nasceu para avaliar o ensino médio e foi aproveitado para ser uma das formas de ingresso no ensino superior. Eu não acho que tenhamos problemas com o processo seletivo. Se pudéssemos ter os ganhos de trazer o ensino médio e os não alunos para conhecer a universidade, para sonhar com um futuro, sem ter o vestibular, provavelmente teríamos tomado essa decisão, porque existe uma forma mais barata, tão boa quanto, mas que a gente não tem domínio e que nos complica no calendário. Principalmente, no início do ano, quando nos faz ter segunda ou terceira chamada com o semestre andando, o que pedagogicamente é horroroso. Tivemos algumas motivações, como falei no início da entrevista, de voltar a dialogar com a comunidade, mas também resolver alguns passivos que o SiSu nos traz, como a questão de calendário, porque não temos mando sobre esse calendário.

"A questão da soft skills, afinal de contas o que é isso? Como se desenvolve? Faz tudo parte de um arcabouço. Eu volto do Fórum do Ensino Superior (FNESP), em São Paulo, com declarações de grandes empresas de recrutamento, que o soft skills não vai fazer falta no futuro, já faz falta hoje. Problemas de relacionamento, de saber lidar com pessoas, já são uma falta que existe hoje. Não é no futuro que precisamos formar, já está fazendo falta agora." 
Jean-Marc Stéphane Lafay - Pró-Reitor de Graduação e Educação Profissional

ASCOM- Sua presença no Campus Ponta Grossa se deve a sua participação nas Semanas Acadêmicas Integradas (SAI). Poderia falar um pouco sobre sua participação  na SEMEC, ou que você traz para os estudantes?

Lafay– Eu trago aprendizagem ao longo da vida. Pra mim é o que representa minha maior crença e acredito que no ambiente universitário seja algo muito forte nos professores, nos técnicos e nos próprios estudantes, mas eu trago alguns desafios. Acreditamos na aprendizagem ao longo da vida, mas ao mesmo tempo pedimos para as pessoas optarem se vão estudar ou se vão trabalhar. Isso porque colocamos uma carga muito grande para a pessoa cursar o ensino superior, de uma maneira muito concentrada. Em cinco anos você tem que definir sua carreira, será? E nós nos surpreendemos quando as pessoas não querem mais estudar. Eu mesmo tenho graduação, mestrado e doutorado, mas me dá uma preguiça em pensar em mais uma graduação, por quê? Se eu acredito no aprendizado ao longo da vida. Se eu acredito no ensino formal. Quero trazer uma reflexão sobre os tipos de inteligência que temos, sobre quem mais nutrimos na nossa personalidade (...).  Existem inteligências que a gente não reconhece. Na nossa sociedade, por causa do boom que a ciência alcançou, reconhecemos que a pessoa é inteligente se ela é boa em lógica, mas se for uma inteligência musical ou da natureza, não há reconhecimento. Nós nem sabemos que essas inteligências existem, não fomos alfabetizados nesse sentido. (...) São pequenas coisas (...) julgamentos e valores que a gente arrasta para a vida e nos trazem limitações (...). A questão da soft skills, afinal de contas o que é isso? Como se desenvolve? Faz tudo parte de um arcabouço. Eu volto do Fórum do Ensino Superior (FNESP), em São Paulo, com declarações de grandes empresas de recrutamento, que o soft skills não vai fazer falta no futuro, já faz falta hoje. Problemas de relacionamento, de saber lidar com pessoas, já são uma falta que existe hoje. Não é no futuro que precisamos formar, já está fazendo falta agora.

ASCOM - Que recado você gostaria de deixar para os estudantes com a sua fala?

Lafay – Flexibilidade neural, para não cristalizar tanto as tuas crenças. Porque uma vez cristalizado você só vai enxergar o mundo com a sua ótica e o mundo é muito amplo, muito diverso. Eu posso dizer que eles estão no inicio da caminhada. E tem que fazer a caminhada e aproveitar o caminho. Não é um caminhão de coisas agora, porque lá no futuro eu vou usufruir. É de saber levar a vida, é quase um convite para o despertar da arte de viver. Saber estudar, trabalhar e se divertir. Como eu doso bem essas coisas e saber o porquê eu preciso dosar.